Zero deu parecer negativo ao estudo Regadio 2030. EDIA fala em “extrapolação”
Escrito por Admin RVidigueira em 18/01/2022
A associação ambientalista Zero deu parecer negativo ao estudo de expansão do regadio no continente.
A Zero alertou para as áreas classificadas da Rede Natura 2000 que estão ameaçadas por mais de 130 mil hectares de regadio.
Trata-se do estudo coordenado pela EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), Regadio 2030, com colaboração do Governo, de associações de regantes e de empresas e que é a base para o programa nacional de regadios para a próxima década, com a criação de novas áreas de regadio no Norte, Centro e Alentejo.
A Zero refere, em comunicado, que o estudo propõe um investimento entre 790 milhões de euros e dois mil milhões de euros para o melhoramento de regadios existentes em todas as regiões do país e para a criação de novos regadios, “com uma expansão das áreas regadas por aproveitamentos hidroagrícolas de 127 mil hectares”.
A associação ambientalista alerta neste comunicado, que dos 99 novos regadios, mais de 20 irão afetar áreas incluídas na rede Natura 2000, rede europeia de áreas protegidas.
“Um terço dos projetos para novos regadios integram áreas classificadas, incluindo Zonas de Proteção Especial (ZPE) e Zonas Especiais de Conservação (ZEC) pertencentes à rede Natura 2000. As sobreposições abrangem várias áreas da Reserva da Biosfera Meseta Ibérica, dois Parques Naturais (Vale do Tua e Douro Internacional), sete ZPE e 12 ZEC”, alerta a Zero no comunicado.
De acordo com a Zero, a conservação nestas áreas, não é conciliável com o regadio e a intensificação agrícola defendida no estudo, que leva à destruição de habitats e degradação da biodiversidade.
Na análise a este estudo, que esteve em consulta pública, a Zero aponta ainda que o mesmo não contempla soluções para os agricultores nos territórios mais vulneráveis às alterações climáticas, à desertificação e ao despovoamento, e chama a atenção para o “aumento abrupto” de área regada e de consumos exponencialmente maiores de água.
Na semana passada cinco outras organizações ambientalistas (Geota, ANP/WWF, SPEA, LPN e proTejo) já tinham considerado que o estudo é setorial, “com objetivos estritamente económicos, não integrando as componentes ecológicas e sociais enfatizadas pela nova Política Agrícola Comum Europeia”, nem colocando em contraponto a produtividade agrícola e a preservação dos recursos hídricos, do solo e a biodiversidade, nem tendo e conta o património cultural e natural.
Em declarações à Rádio Vidigueira, José Pedro Salema, presidente da EDIA, coordenadora deste estudo, diz perceber “os receios”, mas estas questões que foram levantadas “já foram acauteladas” no estudo, dizendo haver alguma “extrapolação” por parte das associações ambientalistas.
José Pedro Salema