Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 21/01/2025
Marco Abundância 20/01/2025
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
A “Cooperação para a Era Inteligente” não deixar ninguém para trás
Começou ontem e decorre até ao próximo dia 24, a 55.ª edição do Fórum Económico Mundial de Davos 2025, que reúne mais de três mil líderes políticos, empresariais e da sociedade civil, entre os quais cerca de 60 chefes de Estado e de Governo e 900 líderes de grandes empresas, para definir qual é a agenda do ano para solucionar desafios globais, como mudanças climáticas, geoeconómicas e tecnológicas.
Este ano, o ponto central das discussões do Fórum será voltado para o avanço tecnológico, sob o tema “Cooperação para a Era Inteligente”, baseado na ideia de que tecnologias convergentes estão levando a uma revolução social.
O programa está orientado em torno de cinco prioridades temáticas distintas, mas interligadas: Reconstruir a Confiança; Reavaliar o Crescimento; Investir nas Pessoas; Proteger o Planeta; e Indústrias na Era da Inteligências Artificial.
Como se pode verificar e como seria de prever, tratrando-sede um fórum económico, as atenções centram-se muito mais no crescimento económico do que no desenvolvimento e no combate às desigualdades, que um estudo divulgado confirma que se acentuaram com o aumento da concentração da riqueza e o aparecimento de novos multimilionários.
Mesmo quando se refere às pessoas, é na perspectiva do investimento no desenvolvimento do capital humano. Ou seja, numa perspectiva utilitária das pessoas para as empresas, a produção de riqueza e o crescimento económico, como mais um factor de produção. E nunca como seres humanos, cidadãos com direitos e deveres, que devem ser tratados com dignidade e respeito, independentemente da sua condição ou estatuto .
Não deixar ninguém para trás deve ser um objectivo prioritário de todos os líderes. Infelizmente, transformou-se em mais um slogan político usado por candidatos políticos em campanhas eleitorais, esquecido logo depois das eleições. E a generalidade dos outros líderes, designadamente das empresas, nem sequer falam dele, como se lhes queimasse a língua.
Com o avanço cada vez mais rápido da tecnologia, as diversas oportunidades e sectores emergentes que surgem com esse avanço são aproveitados prioritariamente para adaptar a economia e a administração pública de forma a poderem fazer mais e melhor com menos pessoas e nem sempre tendo em conta os interesses destas, quer como trabalhadores quer como consumidores.
As pessoas que, pela idade ou por qualquer outra circunstância, têm dificuldade ou não conseguem lidar com as novas tecnologias têm cada vez mais dificuldades de manter ou aceder ao emprego e até de tratar dos seus problemas do dia-a-dia.
São cada vez mais os trabalhadores que ficam desempregados e em situação crítica, porque são demasiado velhos e têm dificuldades em se adaptar às novas tecnologias e são demasiado novos para se reformarem.
Tratar de qualquer assunto do quotidiano com uma empresa ou um serviço público transformou-se num quebra-cabeças para quase toda a gente. A dificuldade de conseguir encontrar um interlocutor humano no outro lado da linha telefónica ou do e-mail transformou as empresas e os serviços públicos em fortalezas a que o comum dos cidadãos quase não consegue aceder. A chamada inteligência artificial passou a ser a resposta para tudo, mas quase nunca tendo a resposta de que precisamos.
Quem não esbarrou com estas dificuldades quando teve necessidade de tratar de questões simples como as relacionadas com a marcação de consultas, consumos de electricidade, gás, água ou telemóveis, ou mesmo fazer compras pela Internet, só para falar nalgumas mais comuns?
E assim vamos tendo um mundo e sociedades onde as exclusões de pessoas se vão acentuando, onde, efectivamente, muitas pessoas vão ficando para trás, de fora dos benefícios que o progresso traz, porque o progresso induzido pelas novas tecnologias não as considera como principais beneficiários. Quando, numa perspectiva humanista, a “Cooperação para a Era Inteligente” devia ter como principal objectivo não deixar ninguém para trás, fomentando a inclusão e tratando todas as pessoas de igual forma, com respeito e dignidade, promovendo e fomentando a cidadania.
Até para a semana!
LG, 21/01/2025