Crónica Lopes Guerreiro – 23/05/2024
Marco Abundância 23/05/2023
A crónica de Lopes Guerreiro.
Oposição que vive órfã do passado não pode ter grande futuro
O PSD, o maior partido da oposição, tem tido dificuldades em se afirmar como uma alternativa credível ao governo do PS. Basta ver as sondagens e, principalmente, estar atento ao que as pessoas dizem para se perceber que nem sequer o descontentamento com o governo tem conseguido capitalizar em seu proveito.
Tais dificuldades começam logo na dificuldade em definir o seu posicionamento político-ideológico e, consequentemente, na falta de uma estratégia bem definida em termos eleitorais, com muitos ziguezagues em função das circunstâncias do momento. Desde a dificuldade em assegurar que não faz entendimentos com o Chega – até porque conta com ele para poder continuar no Governo Regional dos Açores -, até à recente afirmação do seu antigo líder ex-primeiro-ministro Pinto Balsemão de que o PSD é um partido de centro-esquerda tudo tem servido para manter aquela indefinição.
Mas aquelas dificuldades passam também pela dificuldade de afirmação dos seus recentes líderes, desde que deixou o governo – Rui Rio e Luís Montenegro, apesar do primeiro se afirmar contra e o segundo como herdeiro de Pedro Passos Coelho -, de apresentar o PSD como alternativa credível ao governo do PS.
O PSD parece continuar refém do passado, dos seus líderes e dos seus primeiros-ministros. Veja-se a maior atenção que os seus militantes e eleitores dão ao que dizem – e também aos seus silêncios -, os seus antigos líderes e ex-primeiros ministros.
Na comemoração do aniversário do partido, os presentes fizeram um silêncio absoluto e reverencial para ouvir Pinto de Balsemão afirmar, entre outras coisas, que o PSD não deve fazer acordos com o Chega, porque é um partido de centro-esquerda, como se estivesse a afirmar o que todos consideram…
Neste fim-de-semana, no encerramento do terceiro Encontro Nacional de Autarcas Social-Democratas, os presentes regozijaram-se até ao êxtase ao ouvir Cavaco Silva sugerir que primeiro-ministro pode ter um “rebate de consciência” e demitir-se, depois de acusar o governo de “desnorte”, “populismo”, “hipocrisia” e “desprezo pelos interesses nacionais”, como se acreditassem ainda no seu poder de demitir governos ou dissolver o parlamento… E, como se não bastasse, ainda o ouviram dizer, impávidos e serenos, que Luís Montenegro está tão preparado para ser primeiro-ministro como ele, quando foi nomeado para o cargo pela primeira vez e não não tinha qualquer preparação para o exercer…
Nos últimos tempos, as hostes do PSD têm andado animadas com a tensão acentuada por Marcelo Rebelo de Sousa no seu relacionamento com o governo de António Costa, como se vissem nele o líder da oposição capaz de derrubar o governo, que não veem em Luís Montenegro…
Os silêncios de Pedro Passos Coelho, entre-cortados por pequenas e ambíguas declarações, mantêm o PSD e, principalmente, Luís Montenegro em sobressaltada ansiedade sobre o seu futuro.
E, para fechar o rol que já vai longo, até Marques Mendes é ouvido com mais atenção nos seus comentários semanais do que Luís Montenegro nas posições políticas que vai apresentando.
Ora, quem assim vive, órfão do passado, não pode ter grande futuro.
Mas, a mais impactante dificuldade de Luís Montenegro em afirmar o PSD como oposição credível, capaz de derrotar o PS em próximas eleições e de voltar a ser governo, é mesmo a falta de alternativa política. Luís Montenegro não consegue apresentar o PSD como mais do que uma alternância ao PS e ao seu governo, com algumas nuances que – raramente, para não dizer nunca -, não apresentam perpectivas de melhoria, seja em que área for, ao que existe. E essa é a verdadeira dificuldade que leva Luís Montenegro, tal como se verificou com Rui Rio, a não conseguir convencer os portugueses, mesmos os mais descontentes com o PS, António Costa e a sua governação.
Até para a semana!