Crónica de Opinião Lopes Guerreiro – 30/05/2023
Marco Abundância 30/05/2023
A crónica de Opinião de Lopes Guerreiro.
Crescimento económico e desenvolvimento
O crescimento económico nem sempre é tão gerador de desenvolvimento quanto se julga ou nos tentam fazer crer. Associado ao crescimento económico existe sempre algum desenvolvimento a montante, seja pela criação de postos de trabalho seja pela animação de algumas actividades, quer no fornecimento de bens quer de serviços.
Mas, o desenvolvimento que se quer nas diversas dimensões – económica, social, cultural e humana -, ou seja, integrado e integral, sustentado na preservação do ambiente, que tenha a realização e a satisfação do ser humano como objectivo central nem sempre acontece e, quase sempre, fica muito longe de acontecer.
A generalidade dos indicadores macro-económicos divulgados pelo governo e por instâncias supranacionais, como a Comissão Europeia ou o Fundo Monetário Internacional, mostram que Portugal tem tido, nos últimos tempos, um crescimento económico acima do da União Europeia.
Naturalmente que, analisando um pouco mais as razões para que tal melhoria se esteja a registar, encontram-se logo duas razões determinantes – o baixo nível de partida e o enorme crescimento do turismo, que já superou os níveis de antes da pandemia, que sendo positivo, não é muito sustentado, por ser muito volátil, dependente de circunstâncias geradoras de oscilações.
Mas, apesar disso, crescimento é crescimento e a economia nacional está a melhorar, ao ponto de se esperar um défice próximo do zero e uma redução significativa da dívida pública. Isto para além dos grandes e imorais lucros da banca, das empresas de energia, das distribuidoras, entre outras. Tudo isto, apesar do rescaldo da pandemia, dos efeitos da guerra e da inflacção.
Mas será que os benefícios desse crescimento económico está a chegar às pessoas, a começar pelos trabalhadores que produzem essa riqueza? Aí os indicadores são bem menos positivos, apontando para: o acentuar de desigualdade; a actualização salarial aquém da inflacção, com quebra do poder de compra e aumento do número de trabalhadores atirados para a pobreza; degradação das condições de vida dos reformados, deficientes e outras pessoas mais vulneráveis; degradação de serviços públicos, designadamente de Saúde, Educação e Segurança Social, fundamentais para a satisfação das condições básicas das pessoas. Isto para não falar nas condições inumanas de acolhimento de muitos dos imigrantes, sem os quais o crescimento económico não estaria a acontecer.
A nível regional, designadamente na zona de influência do regadio de Alqueva, assistimos igualmente a crescimento económico nunca visto, com um forte contributo para as exportações. Mas, também aqui, será que esse crescimento económico está a contribuir, tanto quanto devia, para o desenvolvimento regional, integrado e integral, respeitador do ambiente e a satisfazer as pessoas, a começar pelas suas necessidades básicas? A continuação do despovoamento e do duplo envelhecimento, apesar da forte imigração, é talvez a evidência maior de que tal não está a acontecer.
Ou seja, apesar a intensificação da exploração dos recursos naturais, seja do subsolo com a extração de minério, seja do solo com as culturas regadas, a vida da generalidade das pessoas não sentiu melhoria com o crescimento económico registado e levantam-se muitas dúvidas sobre a forma como, nalguns casos, estão a ser preservados o ambiente e a natureza.
O que está, verdadeiramente, em causa é o modelo económico, assente na sobre-exploração dos trabalhadores, com baixos salários, horários desregrados e desrespeito por outros direitos da grande maioria dos trabalhadores, a par de grandes e imorais lucros de grandes grupos de empresas, geradores da concentração da riqueza e do acentuar das desigualdades, alcançados através da desregulação do mercado.
E, António Costa e o seu governo têm razão. Tudo isto é resultado de opções políticas. E as suas estão a dar os resultados que se veem. Quanta distância vai entre o dito e o realizado!… Não é só a comunicação social que vive numa bolha, como ele diz, é também o governo que vive nessa bolha, bem diferente da vida cá fora, na realidade do dia-a-dia das pessoas que vivem do seu trabalho ou da sua pensão que anseiam por uma maior participação nos bons resultados da economia nacional.
Até para a semana!
LG, 30 de Maio de 2023