Crónica de opinião – Lopes Guerreiro – 30/04/2024

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro. A 40ª edição da Ovibeja é o tema.

OVIBEJA, todo o Alentejo deste mundo

Começa hoje mais uma edição da OVIBEJA, a quadragésima. A Ovibeja, sendo uma feira como tantas outras, é muito mais do que uma simples feira.

Desde logo é diferente a sua criação. Em Setembro de 1983, um grupo de produtores de ovinos, antevendo os novos desafios para a produção, que traria a próxima entrada de Portugal na então CEE – hoje, União Europeia -, decidiu constituir a ACOS –  Associação de Criadores de Ovinos do Sul. Como forma de se apresentar e divulgar a sua existência e os seus objectivos, participou, no ano seguinte, com uma mostra de ovinos e caprinos e um bar, na Feira da Primavera, que então se realizava no terreno onde foram instalados, uns anos mais tarde, as grandes superfícies comerciais, o Hotel Mélius e a EDIA. E assim, certamente, sem terem bem a noção disso, realizaram a que viria a ser a primeira edição da Grande Feira do Sul, a OVIBEJA.

Depois de ter realizado nesse local mais três ou quatro edições, a OVIBEJA passou a realizar-se no Pavilhão das Lãs, depois estendeu-se para os terrenos limítrofes e para o NERBE e, mais tarde, foi decisiva para a construção do Parque de Feiras e Exposições de Beja, a que foi atribuído o nome de Engenheiro Manuel Castro e Brito, o seu grande dinamizador. Mais recentemente cresceu ainda para o Campo da Feira.

E foi precisamente com o Engenheiro Manuel de Castro e Brito a liderar a ACOS, que continuou a organizar a OVIBEJA, que esta atingiu um novo modelo, bem mais complexo do que a generalidade das feiras, passando a ter outras componentes como as exposições temáticas, de gado, aves, institucionais e de todo o tipo de serviços e comércio; restaurantes, bares e outros espaços da gastronomia; o festival de música e outros concertos, com o Cante Alentejano, que chegou a ter um pavilhão dedicado, sempre presente; os colóquios e toda a panóplia de encontros para apresentação, divulgação e debate de ideias, políticas, designadamente relacionadas com a agricultura e a região, produtos, serviços, formação; o Prémio Internacional de Azeite Virgem, os prémios de animais e outros; jornadas e encontros de promoção do intercâmbio inter-regional e internacional; a ACOS+, que pretende aproximar as crianças do Mundo Rural, com diversas actividades que as atraem e ocupam; e mais uma multiplicidade actividades de seria fastidioso enumerar aqui.

Este modelo acabaria por ser replicado em muitas outras feiras, sendo hoje frequente encontrá-lo disseminado por todo o território, embora com uma significativa diferença: Enquanto a generalidade das feiras é organizada pelas autarquias e suportadas financeiramente por estas, a OVIBEJA é organizada por uma associação de agricultores, que tem de assegurar a sua sustentabilidade económica.

A OVIBEJA, tendo sido criada e sempre organizada pela ACOS, contou, no início e nos anos de afirmação e consolidação, com o apoio decisivo do Município de Beja e de outros da região, através da sua Associação de Municípios, e de outras entidades, como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo. Com a consolidação da Grande Feira do Sul, os apoios foram diminuindo e a organização teve de ir aumentando os preços das entradas e aos expositores e angariar patrocínios, de forma a assegurar a sustentabilidade OVIBEJA. Apesar disso, a ACOS continua a assegurar a participação na Feira de muitas associaçõe e outras entidades, sem custos  ou com preços reduzidos, dando-lhe também uma componente social importante.

A OVIBEJA é resultado da iniciativa, do empreendedorismo, da inovação e também da resiliência, da abertura ao novo, ao diferente e aos desafios e da capacidade de cooperação da ACOS, que sempre considerou a Grande Feira do Sul como um espaço onde todos cabem, podem apresentar-se e apresentar as suas ideias, os seus projectos e produtos, daí o ter-se assumido como “todo o Alentejo deste mundo”, porque é um dos acontecimentos que mais e melhor representa e divulga “todo o Alentejo deste mundo”, embora extravase este território em muitas das suas vertentes.

Para manter e aumentar o nível que atingiu, a organização deverá assumir uma maior profissionalização, para continuar a assegurar a capacidade de inovar e renovar a OVIBEJA, com vista à necessária diferenciação, que a mantenha especial, fazendo parte obrigatória de muitas agendas pessoais, profissionais, institucionais e políticas.

Até para a semana!

LG, 30/04/2024