Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 29/07/2025
Marco Abundância 29/07/2025
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
Para onde está a caminhar a Humanidade?
Depois de décadas sucessivas de esforços conjuntos para a manutenção da Paz e de aproveitamento do progresso científico, técnico e tecnológico para o desenvolvimento humano, temos vindo a assistir nos últimos anos e progressivamente à degradação desse caminho.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a explosão das duas bombas nucleares, os homens que nos governavam pareciam ter percebido que era necessário fazerem tudo para que esse período tenebroso, que matou e destruiu tanta gente, deixando o Mundo num verdadeiro caos, não voltasse a repetir-se e a aproveitar a reconstrução para promover a Paz e a cooperação entre os estados e as nações, o progresso científico, técnico e tecnológico e colocado este ao serviço do desenvolvimento humano.
E conseguiram-no em boa medida, progressivamente, e, até há pouco tempo, parecia que de forma irreversível. É certo que nem tudo correu bem, que não conseguiram evitar todos os conflitos e nem sempre conseguiram acabar com eles o mais depressa possível e com os menores danos, que não combateram a fome e a miséria dos povos nem promoveram a igualdade de oportunidades como deviam, que não protegeram a nossa casa comum permitindo crimes ecológicos e alterações climáticas difíceis de reparar, entre outros aspectos, que acabaram por contribuir para o retrocesso civilizacional que estamos a viver.
Quando falo em retrocesso civilizacional não me refiro apenas às guerras em curso e às atrocidades que nelas são praticadas, o que que já não era pouco.
As imagens que nos chegam todos os dias, designadamente de pessoas a serem assassinadas por cometerem o “crime” de quererem alcançar um pouco de água e de comida para matarem a fome que está a matar tanta gente, com especial crueldade crianças, são por demais evidentes desse retrocesso civilizacional e da falta de humanismo, que permite essa barbárie cometida pelo governo dos descendentes dos que foram atingidos pelo holocausto. Quem diria? Como podemos aceitar?
Mas, como disse, não me referia apenas às guerras e suas dramáticas consequências.
Referia-me também a outros retrocessos: À exploração desenfreada dos recursos naturais, pondo em causa ecossistemas essenciais ao equilíbrio ambiental, provocando alterações climáticas, que podem pôr em causa a própria sobrevivência humana; À crescente concentração da riqueza, que permite que os que a produzem, os trabalhadores, continuem pobres, alguns ao ponto de não conseguirem o suficiente para alimentar e assegurar uma casa às suas famílias; À fome e à miséria que assola tantos povos em tantas regiões quando outros geram tantos desperdícios e há capacidade de produzir o necessário para todos.
Mas queria-me referir ainda ao, talvez, mais grave retrocesso civilizacional, que é a redução da inteligência desta geração, o que acontece pela primeira vez na história das civilizações. Com a agravante de termos à disposição ferramentas como nunca tivemos. Mas que, ao contrário do que devia acontecer, não são usadas para aumentar a inteligência das pessoas mas apenas para as capacitar para desempenhar as tarefas que interessam aos que mandam nisto tudo, sem espírito crítico.
Apesar das promessas que sempre foram fazendo de colocar o progresso científico, técnico e tecnológico ao serviço das pessoas, da Humanidade, não é isso que se verifica. A ambição dos poderosos serem cada vez mais poderosos faz com que usem o progresso para concentrar cada vez mais o poder e a riqueza, instrumentalizando as ferramentas alcançadas com o progresso a seu favor.
A chamada Inteligência Artificial poderá ser a machada final. Sendo um instrumento importante e mesmo decisivo para diversas áreas, muitas delas de grande importância para todos, como a saúde e outras, será usada pelos donos disto tudo para normalizar por baixo, dispensando o recurso à inteligência, ao pensamento crítico.
Cada vez mais, teremos a papinha preparada, pronta a consumir, sem necessidade de ser degustada e mastigada. E, cada vez mais, teremos dificuldade em apurar o que precisamos e queremos, limitando-nos a consumir o que querem que consumamos.
Parece-me que o caminho para que nos conduziram é muito perigoso e terá mais desvantagens do que vantagens para o futuro da Humanidade.
Até para a semana! LG, 28/07/2025