Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 28/10/2025
Marco Abundância 28/10/2025
Mudaram muitos eleitos, vamos ver se muda muita coisa nas autarquias
Mais de metade dos presidentes de câmara (165) foram eleitos pela primeira vez, para o mesmo município, embora alguns já exercessem essas funções por terem substituído, durante o mandato que agora termina, os presidentes eleitos.
Há ainda a considerar as mudanças registadas nos órgãos autárquicos, pelas alterações nas listas de candidatos apresentadas e pelos resultados das eleições, que provocaram mudanças muito significativas no conjunto dos eleitos locais.
Diz-se que é a democracia a funcionar, mesmo que não esteja a funcionar tão bem quanto desejávamos, devido a diversos factores que condicionam o voto de eleitores.
Votaram nestas eleições autárquicas, que foram as mais concorridas desde há 20 anos, mais meio milhão de eleitores do que nas últimas eleições autárquicas, de 2021.
Isto, só por si, mostra o interesse que estas eleições despertaram nos eleitores, que quiseram, com o seu voto, dizer a muitos que estava na altura de dar a oportunidade a outros, de mostrarem que são melhores do que os que criticavam e agora substituem.
A todos os eleitos das autarquias locais que agora cessam funções, com especial relevo para os presidentes de municípios pelo seu papel liderante, devemos manifestar o nosso reconhecimento pelo serviço público que prestaram.
Porque, mesmo que tenham ficado muito aquém do que prometeram, tal não aconteceu por não terem feito tudo para o conseguirem, mas certamente porque avaliaram mal as capacidades de realização e não conseguiram reunir as condições necessárias para a concretização de todas as suas promessas.
Realizadas as eleições e instalados os novos órgãos autárquicos, começam os desafios não só para estes 165 novos presidentes de câmara eleitos pela primeira vez para os mesmos município, mas também para os restantes 143 que foram eleitos pela segunda ou terceira vez consecutiva no mesmo município.
Naturalmente que o choque maior será o que os novos eleitos vão enfrentar, porque, por melhor que estivessem informados e preparados, a realidade vai ser sempre mais dura do que a ambição e a vontade de realizar que os motivou e anima.
O primeiro ano costuma ser o mais duro, e muitos eleitos, ao longo dos diversos mandatos, já chegaram a ter problemas de saúde graves, exactamente pelo acréscimo de trabalho e de tenção pelas pressões sentidas de a tudo e todos quererem dar resposta, e a frustração por não o conseguirem, pelo menos, de forma positiva.
A todos os novos eleitos desejamos os maiores sucessos, porque deles vai depender muito o progresso do nosso País e das nossas regiões e a qualidade de vida das populações dos concelhos e freguesias.
Estas semanas são decisivas para a definição da forma como vão funcionar muitos órgãos autárquicos, principalmente naqueles em que os vencedores não conseguiram a maioria e são muitos.
Esta é uma fase decisiva para percebermos a postura dos vencedores e dos que não conseguiram vencer. Se são capazes ou não de colocar os interesses colectivos da comunidade que os elegeu à frente de interesses partidários ou outros. Se conseguem ter ou não humildade democrática e espírito de cooperação para assegurar o normal funcionamento dos órgãos autárquicos e a governação dos territórios.
É um período difícil que exige de todos os eleitos, mas principalmente dos que foram escolhidos para liderar os órgãos autárquicos, muita humildade democrática, muita diplomacia e “jogo de cintura”, tendo sempre presente os superiores interesses dos territórios em que foram eleitos e das populações que prometeram servir.
Não é uma tarefa fácil. Para os que, embora tendo vencido as eleições, não conseguiram os eleitos suficientes para poderem governar sem depender de alguns dos que não conseguiram vencer, e precisam destes para poderem governar. Mas também para estes, porque têm de optar entre cooperar e até participar na governação das autarquias ou assumir uma oposição passiva ou obstaculizante.
Logo a seguir vem outro período não menos exigente. O período da elaboração dos planos de actividade e orçamentos é, neste caso, curto e sempre muito exigente, porque exige reflexão, trabalho, opções e, nos casos em que não há maioria, negociações, que nem sempre são fáceis e construtivas.
Para quem está a iniciar funções tudo isto é mais complicado. Porque é preciso transformar promessas de programas eleitorais em obectivos de planos de actividades devidamente orçamentados, porque têm cerca de um mês para o fazer e nem sempre sabem como se faz, e ainda não sabem com que estrutura podem contar para o fazer.
Mais tarde, virá o conhecimento da estrutura e a vontade de a ajustar aos seus conceitos de boa governação, e as dificuldades de a concretizar, bem como de concretizar muitas das intenções que tinham, devido à teia complexa da legislação e demais burocracia, que torna a gestão muito mais complexa do que alguns julgavam.
Vão ter quatro anos para mostrar aos eleitores que são capazes de vencer dificuldades e obstáculos, para que os eleitores não lhes façam o mesmo que agora fizeram aos que acharam que era melhor dar oportunidade a outros. Boa sorte!
Até para a semana!
LG, 28/10/2025

 
         
                         
                     
				