Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 28/05/2024

Marco Abundância 28/05/2024

A crónica de Lopes Guerreiro.

Para onde caminhamos? O que queremos?

Temos vindo a assistir a um definhamento eleitoral do conjunto das quatro principais forças políticas fundadoras da Democracia (PS, PSD, PCP e CDS), com variações entre elas e entre eleições, mas que são bem significativas nas duas últimas décadas, embora também aqui com variações entre as duas décadas. Se entre 2005 e 2015 o principal beneficiado dessa quebra eleitoral foi o Bloco de Esquerda, já entre 2015 e 2024 foram o Chega nas eleições para a Assembleia da República e o JPP – Juntos Pelo Povo, nas eleições regionais da Madeira os principais beneficiados.

Aquelas quatro forças partidárias, que em 2005 obtiveram 89% dos votos, viram a sua votação conjunta baixar para os 77% em 2015 e para os 59% este ano, nas eleições para a Assembleia da República. Ou seja, em duas décadas tiveram uma quebra um terço da sua votação conjunta. O mesmo se passou na Região Autónoma da Madeira, onde os quatro partidos obtiveram, em conjunto, nas últimas eleições 63% dos votos, quando em 2004 tinham conseguido 93%. Ou seja, tiveram igualmente uma quebra de um terço da sua votação conjunta no mesmo período.

As quebras das votações registadas por aquelas quatro forças políticas foram conquistadas, como dissemos, principalmente pelo Chega, que nas últimas legislativas obteve 18%, e pelo JPP, que nas regionais da Madeira obteve 17%.

Havendo um traço comum nesta evolução eleitoral – o aparecimento de uma nova força política que se aproximou das duas mais representativas (PS e PSD) -, aquelas duas novas forças políticas têm origens e propósitos bens distintos.

Enquanto o Chega se constituiu a partir do PSD e também do CDS, quando apertado, diz defender a Democracia, mas que tudo faz para a pôr em causa e enfraquecer, assumindo posições populistas de extrema direita, xenófobas, racistas e contra as minorias, o JPP, constituiu-se como um movimento a partir de dissidências do PS, numa freguesia da Madeira, tendo evoluído para o Concelho que integrava aquela freguesia,  para mais tarde se constituir como partido, tem como princípio o aprofundamento da democracia, através de uma maior participação dos cidadãos.

O Chega alcançou representatividade nacional, embora com menos significado na Madeira, enquanto o JPP apenas agora está a conseguir representatividade na Região Autónoma da Madeira, sendo pouco expressiva a sua representatividade nacional.

Como podemos verificar, embora com traços comuns, são significativas as diferenças políticas registadas na evolução dos resultados nas eleições para a Assembleia da República e para a Assembleia Regional da Região Autónoma da Madeira.

De onde seja difícil concluirmos se a quebra de confiança eleitoral nas quatro principais forças políticas fundadoras da Democracia se deve a uma crescente descrença na Democracia ou a uma crescente consciência da necessidade do seu aprofundamento e reforço. Se, por um lado, a maior afluência às urnas nas últimas eleições legislativas pode significar uma maior valorização da importância atribuída ao voto e, em consequência, à Democracia, por outro lado, o aumento significativo da votação no Chega, que pretende acabar com o regime democrático, não augura nada de positivo, quando ainda por cima terá conseguido de forma expressiva os votos dos mais novos, segundo os especialistas. Mas, por outro lado ainda, o reforço eleitoral do JPP, que defende o aprofundamento da Democracia com base numa maior participação dos cidadãos, faz pressupor que os eleitores não só não deixaram de acreditar na Democracia como querem o seu aprofundamento e reforço.

Para tornar a situação ainda mais complexa e difícil de perceber como vai evoluir, temos, em resultado das últimas eleições, governos com menores bases de apoio na República e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Embora de cariz muito diferente, vamos ver se os resultados para o Parlamento Europeu vão ajudar a compreender melhor o quadro político nacional resultante desta ronda eleitoral, ou se vão contribuir para o tornar mais incompreensível e instável. Estas eleições, por outro lado, poderão ajudar a compreender melhor as evoluções políticas, com base nos seus resultados, nos diversos países e também na União Europeia. Vão contribuir para a consolidação e reforço do populismo de extrema direita ou para a sua contenção e, eventual, regressão?

Até para a semana!                                                                              LG, 28/05/2024

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