Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 28/02/2023
Marco Abundância 28/02/2023
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
Construir a paz ou caminhar para terceira guerra mundial
É vulgar dizer-se, mas nunca como hoje foi tão verdadeiro, que o mundo está a tornar-se num sítio perigoso para se viver.
Sempre existiram e continuam a existir muitas guerras por esse mundo fora. Mas, como quase todas elas, desde a segunda Guerra Mundial, acontecem longe de nós incomodamo-nos com elas durante uns dias, enquanto são notícias importantes nos telejornais. Depois, acostumamo-nos às notícias que sobre elas nos chegam durante mais uns tempos até nos esquercermos delas. Os mortos, os feridos e estropiados, os deslocados e todo o sofrimento por que passam os povos que nelas são forçados a envolver-se pouco mais do que números e imagens fugazes representam para nós.
Até uma que, apesar de ter lugar num nos extremos da Europa, desde 2014 se manteve activa até agora e, tal como aquelas outras, quase não demos por ela, apesar dos milhares de mortos e feridos e dos deslocados que provocou. Já estávamos habituados. Até que, há um ano atrás, a Federação Russa decidiu invadir a Ucrânia para resolver, a seu contento, o conflito sobre o domínio de regiões ucranianas a quem foi atribuída autonomia, nunca observada, mantendo o conflito permanente.
E foi então que aquela guerra, a que já estávamos habituados, assumiu uma dimensão e contornos para que não estávamos preparados e consequências que ainda hoje poucos se atrevem a perspectivar. Mantém-se confinada à Ucrânia, alastra a territórios vizinhos ou perde-se o controlo da situação e entramos – no que mais receamos e julgávamos não voltar a acontecer tão cedo -, numa nova guerra mundial?
Há um ano, a Federação Russa invadiu a Ucrânia transmitindo a ideia de que em pouco tempo resolveria a situação a seu contento, o que não aconteceu. Passados uns meses e com o apoio dos países da Nato, uma contra ofensiva da Ucrânia levou a que esta começasse a comemorar a vitória, o que também manifestamente não se justificou. E a guerra continua numa espiral de verbalização e utilização armanentista, que tem tido como consequências, para além das dezenas de milhares de mortos, feridos dos dois lados e milhões de deslocados ucranianos, o aumento da inflação, como há muito não se registava, com o consequente agravamento das condições de vida das pessoas, lucros brutais das grandes empresas de energia e de armamento e, pior de tudo, um crescendo das tensões entre os dois lados, com ameaças que já vão na eventual utilização de armas nucleares.
Os Estados Unidos da América, a Inglaterra, a União Europeia e a NATO, assumiram a defesa das posições da Ucrânia como a defesa da Europa e do “Ocidente”, em confronto aberto com a Federação Russa. Começaram com as sanções económicas, com a promessa de que assim iriam enfraquecer a economia russa e, por consequência gerar descontentamento nos russos contra quem os governa. A União Europeia acabou de aprovar o décimo pacote de sanções económicas (este alargado também ao Irão), que, até agora, têm tido mais efeitos de ricochete, com prejuízos para os povos dos países que tais medidas aprovaram, do que nos russos. A NATO, através dos países que a constituem, tem vindo a aumentar progressivamente o apoio militar, em formação e armamento, faltando pouco mais do que o envio de contingentes militares para que se possa afirmar de que já está envolvida na guerra.
Até aqui, ambas as partes continuam a garantir que vão vencer a guerra, não mostrando, a não ser muito esporadicamente, qualquer intenção de procurarem chegar a acordo para pararem as hostilidades e construirem a paz. A Ucrânia tem contado não só como apoio mas também com o incentivo desse desígnio por parte dos Estados Unidos da América, da Inglaterra e da União Europeia. A maioria dos maiores e mais populosos países tem mantido uma posição relativamente neutral.
A tensão existente, com o agravar daquela espiral bélica está a atingir níveis tais que qualquer medida ou frase pode fazer descontrolar a situação, quer pela utilização de armas mais perigosas quer pelo envolvimento de outros países na guerra. Transformar esta guerra numa guerra do “Ocidente” contra o “Oriente”, numa perspectiva simplista, será o pior que nos poderá acontecer.
Não sei o que é preciso fazer para parar a guerra e construir a paz. Mas sei que a continuação desta guerra vai continuar a matar e ferir ucranianos e russos e a afectar-nos a todos. E espero que os governos dos países sejam capazes de impedir que interesses de poucos continuem a prejudicar tantos e a desafiar uma nova guerra mundial.
Até para a semana!