Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 25/06/2024
Marco Abundância 25/06/2024
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
A Escola, para além de ensinar, tem também de educar
Com demasiada frequência, lemos e ouvimos comentários, designadamente de professores, a afirmar que são os pais que devem educar os filhos, porque a eles apenas lhes compete ensinar.
Ou seja, de acordo com aqueles comentários, aos pais compete-lhes “a transmissão de princípios relacionados com comportamentos e atitudes correspondentes aos usos socialmente corretos” aos seus filhos, enquanto aos professores compete “a transmissão de conhecimentos e competências”, porque têm “apenas como função fornecer aos alunos as condições necessárias para que eles aprendam”.
Ora, para além do ensino e da educação serem conceitos mais complexos e cuja distinção nem sempre é fácil de fazer, aquelas funções dificilmente podem ser atribuídas tão distintamente, até porque a sociedade tem evoluído muito e muito rapidamente e é cada vez mais difícil aos pais cumprirem o seu papel de educadores.
Há umas décadas atrás a função de educar os filhos competia, quase exclusivamente, às mães, porque as mulheres, de uma maneira geral, não trabalhavam, por opção, as que tinham condições para o fazer, ou por não terem trabalho, pelo menos, durante largos meses durante o ano. Essa disponibilidade permitia-lhes acompanhar de perto o crescimento dos filhos e educá-los de acordo com os valores e as regras da altura.
Hoje, fruto da evolução da sociedade, quase todas as pessoas, homens e mulheres, trabalham e muitas passam a maior parte do dia longe dos seus filhos, quer devido à duração da jornada de trabalho, quer também devido ao tempo gasto em deslocações.
Como se pode esperar – quanto mais exigir -, que pais que passam os dias longe e quase não vêem os filhos os possam educar? Não têm oportunidade, não têm tempo e não têm disposição para o fazer.
Esta é a nova realidade das nossas vidas. É com ela que temos de saber lidar e é em função dela que temos de encontrar novas respostas para problemas novos, ou, pelo menos, diferentes, para que possamos alcançar o objectvoo que pretendemos de ter novas gerações não só cada vez mais qualificadas mas também melhor educadas.
Salvo melhor opinião e tendo em conta esta nova realidade que temos, de pais cada vez mais ocupados e cada vez menos disponíveis para a educação dos filhos, parece-me que terá de ser a Escola a assumir essa função complementar.
Pelos comentários feitos por professores a que me referi no início, parece-me que não só estes como a própria Escola, entendida esta como sistema de ensino, ainda não despertaram para a realidade que hoje temos e, em consequência, ainda pouco ou nada mudaram para fazer face aquele novo e grande desafio.
A questão que deve ser colocada é, mais do que a quem devia competir a função de educar as crianças, quem pode a promover e realizá-la. E parece que não existe outra entidade que não seja a Escola, que, por e para isso, deve ser objecto de uma profunda reflexão e reforma, de maneira a que o ensino e a educação sejam funções cada vez mais interligadas, integradas e inclusivas.
Se tal não for feito, bem nos podemos continuar a queixar de que as nossas crianças e os nossos jovens apresentam cada vez maiores défices de educação, com graves consequências no ensino e, mais tarde, na vida em comunidade e profissional.
Enquanto continuarmos a correr atrás do prejuízo, ou seja, de arranjar escolas degradadas, de suprir carências de equipamentos e, cada vez mais preocupante, de professores qualificados, ou de aprender a lidar com os, cada vez mais, frequentes problemas de relacionamentos entre professores, alunos e familiares, falta-nos tempo e disposição para ver e pensar mais longe.
Mas se queremos uma sociedade melhor, temos de ser capazes de, para além de ir resolvendo os problemas que nos afectam no quotidiano, aprofundar a reflexão sobre a nova realidade em que que vivemos e encontrar novas respostas para os novos desafios. É isso que o Ministério da Educação e todo o sistema de ensino, incluindo todos os seus órgãos democráticos, devem fazer quanto antes, porque já estamos muito atrasados. Do que estamos à espera?!..
Pensem nisso! Até para a semana!
LG, 25/06/2024