Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 24/01/2023
Marco Abundância 24/01/2023
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
Há muita gente séria na política. Nem todos são iguais.
Com demasiada frequência, ouvimos dizer que, na política, são todos iguais. E esta afirmação, que podia ser um elogio, pretendendo dizer que todos os que fazem política o fazem de forma desinteressada em termos pessoais e com todo o empenhamento em servir a comunidade e a sociedade, não passa de um atestado de malvadez aos políticos, principalmente aos que militam em partidos com poder e aos que exercem cargos públicos, seja a que nível for.
Mas será mesmo assim? Será que só está interessado na política quem pretenda tirar partido da sua intervenção em termos pessoais ou servir interesses, mais ou menos, obscuros? Será que Bordalo Pinheiro caracterizou bem a situação ao descrever a política como uma porca e os políticos como os porquinhos que nela mamam?
Em abono desta tese apontam-se os, cada vez mais, casos, casinhos e casões que têm sido divulgados e que raramente têm merecido a reacção imediata dos líderes dos partidos e dos governantes, a nível nacional ou local, a condenar as práticas de que são suspeitos ou acusados. Disse condenar as práticas e não quem as praticou, porque estes devem beneficiar da presunção de inocência até prova em contrário. É este um dos príncipios basilares do Estado de Direito. Faz bem António Costa em afirmar que à Política o que é da Política e à Justiça o que é da Justiça. Faz mal António Costa quando se recusa a tratar politicamente o que é político, refugiando-se na Justiça, que sabe que é lenta, quando estão em causa más práticas apontadas a membros do seu governo ou a autarcas e outros do seu partido.
Sabemos bem como hoje é muito fácil denunciar e acusar na praça pública agentes políticos, nem sempre com o mínimo de fundamentação e, muitas vezes, com divulgação em momentos e por agentes nada ingénuos. Mas, também por isso, é de todo o interesse a rápida demarcação de eventuais práticas criminosas ou menos éticas, para que não se tirem as habituais conclusões de que lá estão eles a protegerem os seus e a protegerem-se. Há um velho ditado histórico que importa não esquecer e aplicar sempre nestas situações: “À mulher de César não basta ser séria. É preciso parcecer séria também”. E é, por isso, de todo incompreensível que a Entidade para a Transparência, criada em 2019, só agora tenha tido os seus responsáveis nomeados…
Sabemos também todos bem que não passa de uma minoria os que se servem da política em proveito próprio ou dos seus ou a quem servem. Tal como sabemos que não é apenas na política que existe abuso de poder, incumprimento de legislação, fuga a impostos, corrupção. Como prova disso, veja-se quem é que corrompe políticos e outros agentes públicos e com que objectivos.
A falta de transparência, a tolerância de situações, no mínimo, pouco claras, a falta de intervenção imediata na clarificação dessas situações e a demora no afastamento dos que possam, de alguma maneira, ser suspeitos ou acusados delas ou de com elas conviverem, até para os proteger, em nada ajudam a combater a imagem de que afinal todos são iguais, porque todos se querem aproveitar do que têm à mesa dos orçamentos. É este comportamento de quem está no poder que importa alterar profunda e rapidamente, se queremos que os que repetem que todos são iguais deixem de ser tão ouvidos, por não terem razão. Até porque os que mais repetem esta afirmação são os que mais se batem por ter lugar à mesa dos orçamentos. Vá-se lá saber porquê…
Tolerar e deixar arrastar situações pouco claras, por mais confiança que mereçam os suspeitos de as terem praticado, só serve a quem pretende destruir a democracia. A defesa da Democracia faz-se com o reforço da transparência e da ética republicana, o combate à corrupção, a defesa do Estado de Direito, o afastamento imediato dos que possam ser beliscados ou beliscar as entidades públicas e políticas que integrem. E, importa não esquecer, a Democracia continua a ser o pior dos regimes político depois de todos os outros. Mas, importa também não esquecer, que a Democracia, por mais consolidada que possa parecer, corre sempre o risco de ser desqualificada ou mesmo destruída. É bom que a preservemos, para não corrermos o rico de voltar ao passado de triste memória.
Até para a semana!