Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 23/01/2024

Marco Abundância 23/01/2024

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

 

Não há milagres nem há santinhos na política

Como sempre, infelizmente acontece nas campanhas eleitorais, todos, embora uns mais do que outros, caem em exageros, mais preocupados em evidenciar o que os separa do que em mostrar o que os aproxima ou une.

É a época em que se alguém diz mata logo aparece outro alguém a dizer esfola. Todos criticam tudo o que foi feito pelos que estiveram no poder, quer pela legislação produzida, quer, principalmente, pela governação. Parece que nada foi feito de positivo, mesmo quando todos sentem que o país e os portugueses ganharam com algumas das leis ou das políticas ou medidas que foram aprovadas e concretizadas.

E, partindo desse pressuposto, de que chegámos a uma situação de terra queimada, todos avançam com soluções para todos os problemas, quais delas mais milagrosas, como se a vida só agora se iniciasse e se houvesse meios para tudo fazer e tudo resolver, como se não houvessem mais amanhãs.

Todos parecem santinhos ou virgens impolutas, como se nada tivessem a ver com a situação em que nos encontramos – porque todos os problemas foram criados pelos outros, que não foram capazes de os resolver e ainda criaram mais -, mas agora chegou a sua vez de tomarem conta do poder e de tudo resolverem no mais curto espaço de tempo possível, certamente por milagre.

Esta será, porventura, uma das razões que contribui mais para afastar mais pessoas da política e para aumentar cada vez mais a abstenção nas eleições, porque é fácil de se atribuírem iguais responsabilidades, quer pelo que se promete quer pelo que se faz.

Mas na verdade, embora todos acabem por ter alguma parte de responsabilidade na situação, há uns que são mais responsáveis do que outros. Não é preciso elaborar muito para todos percebermos que são mais responsáveis os que têm sido maioritariamente escolhidos pelos portugueses, para construirem e melhorarem o nosso quadro legislativo e para governarem, definindo prioridades, criando condições legais, organizacionais, financeiras e operacionais para resolverem problemas e evitarem ou minimizarem o aparecimento de outros.

E esses, todos sabemos quem são. São o PS e o PSD, com o CDS. E convém não esquecer que destes últimos saíram os que hoje, no Chega ou na Iniciativa Liberal, se apresentam como virgens políticas impolutas, quando defenderam políticas e medidas, que contribuíram para chegarmos onde nos encontramos. E se daquelas forças políticas se afastaram foi apenas por querem o poder que nelas não conseguiram e poder ir mais longe e mais depressa nalgumas das políticas que tanto mal têm causado a Portugal e aos portugueses.

Todos sabemos, também, tudo o que de pior nos podem trazer maiorias absolutas e o centrão, ou bloco central dos grandes interesses, constituídos formalmente ou por arranjinhos de conveniência e oportunidade. E, não é por acaso, que mal foi aceite a demissão do primeiro-ministro, imediata e oportunisticamente aproveitada pelo Presidente da República para dissolver a Assembleia da República e antecipar a realização de eleições, logo começaram a agitar os papões da insegurança e da instabilidade política para justificarem as mesmas soluções políticas para resolver os problemas que, com elas ou semelhantes, não resolveram ou criaram.

E Marcelo Rebelo de Sousa tem sido o principal paladino destas velhas e requentadas soluções e, principalmente, da necessidade de alternância no poder, tudo tendo feito para criar condições para o regresso do seu partido, o PSD, à governação. E, por, isso mesmo, foi tão lesto em anunciar a dissolução da Assembleia da República, quando nada o obrigava a tal e mesmo sem ter conseguido o apoio do Conselho de Estado. Nem mesmo o argumento da estabilidade política colhe, entendida esta como o apoio maioritário do parlamento ao governo, porque dificilmente sairá uma nova maioria absoluta ou se formará uma maioria mais homogénea do que a que existia.

Mas, a estabilidade política não resulta, predominantemente, das maiorias de deputados que apoiam os governos, mas sim da política defendida e das políticas aprovadas e das medidas concretizadas. Se, com estas, resolverem os principais problemas do país e da maioria das pessoas haverá estabilidade política, por mais precárias e conjunturais que sejam as maiorias formadas na Assembleia da República. Se, pelo contrário, persistirem nas mesmas políticas e soluções que não resolveram os problemas, e ainda com apoio parlamentar menos estável, o mais provável é que estes continuem e a instabilidade política se acentue.

É disto, da avaliação política das políticas e medidas que propõem, que os que nos trouxeram até aqui nos tentam fazer distrair, com o folclore das acusações mútuas, acusando-se uns aos outros dos outros de serem piores e terem todas as culpas de tudo o que contribuiu para não termos ainda conseguido resolver grandes problemas e assegurado um desenvolvimento mais sustentado e equilibrado.

É, pois, fundamental que nos concentremos nas políticas e medidas que propõem, na sua seriedade, exequibilidade e sustentabilidade. Se o que propõem é mais do mesmo, que não resolveu os problemas que persistem, ou se avançam com novos rumos e novos caminhos, ou seja, políticas e medidas diferentes, capazes de resolver esses problemas e de prevenir o agravamento ou o aparecimento de outros.

Até para a semana!

LG, 23/01/2024

Vidigueira Informação

A atualidade informativa do dia.

Mais informações



Rádio Vidigueira

Rádio Vidigueira

Faixa Atual

Título

Artista

Background
HTML Snippets Powered By : XYZScripts.com
WP Radio
WP Radio
OFFLINE LIVE