Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 20/02/2023

Marco Abundância 20/02/2023

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro, esta semana excecionalmente à segunda-feira.

Porque se mantém a Igreja Católica pedófilos em funções?

Há uma semana atrás, Portugal foi confrontado com o relatório da Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja Católica no nosso país – cerca de 5 mil casos de abusos sexuais praticados nas últimas décadas, a esmagadora maioria contra crianças, na maioria dos casos à guarda de instituições da Igreja Católica e nas suas próprias instalações.

Nada que não se soubesse ou não se suspeitasse. Mas, muitos de nós, preferimos fingir que desconhecemos os podres da sociedade e então quando se trata de uma instituição tão poderosa e com tanta influência como a Igreja Católica quase ninguém se atreve a falar… Mais grave ainda foi a postura de alguns bispos e outros altos dignitários da Igreja Católica que tudo fizeram para, numa primeira fase, impedir a criação daquela Comissão Independente e, depois, o seu trabalho de recolha de informação. E, depois dos resultados conhecidos, ainda há os que não se inibem de publicamente afirmarem que fizeram mal em abrir a caixa de pandora, porque agora será muito difícil fazer o controlo de danos, não das vítimas, mas da Igreja Católica e dos que, em seu nome, praticaram crimes tão hediondos…

Situações como esta que têm vindo a público nos mais diversos países mostram que não se trata de de situações pontuais, mas que faz parte da forma como a Igreja Católica funciona. Também não é nada de novo. A literatura está recheada de histórias sobre situações dessas praticadas nos mosteiros pelos seus principais responsáveis. O facto dos padres serem impedidos de casar e de as mulheres não poderem exercer as mesmas funções levam a que muitos tenham a sua vida sexual mal resolvida. A compreensão deste facto a par do poder dos padres tem levado a que as comunidades tenham convivido com o desrespeito de muitos pela anacrónica imposição do celibato e, até, tolerado abusos por parte de alguns.

Mas hoje os tempos são diferentes. Aumentou muito a valorização e o reconhecimento dos direitos humanos e das crianças, em particular. Existe um grande escrutínio sobre a vida e o comportamento das pessoas, com natural acréscimo das que exercem funções de relevo ou que detêm poder.

Mas, dizia eu, o país mostrou-se abalado. Algumas das principais figuras do Estado, mais do que condenarem os crimes praticados, designadamente contra crianças, ao longo dos tempos e que ainda persistem, e exigirem a sua reparação e medidas que impedissem que tal se repetisse, prefiram enaltecer a coragem da Igreja Católica em ter decidido mandar fazer aquele Relatório. Como se a hierarquia da Igreja Católica portuguesa pudesse fazer outra coisa, depois do que foi feito noutros países e quando passaram a ser tornados públicos alguns desses casos… Como poderia continuar a varrer a porcaria para debaixo do tapete?…

Alguns dos superiores hierárquicos da Igreja Católica deram a cara, assistiram à apresentação do Relatório, embora dele já tivessem tido conhecimento, e pediram perdão às vítimas. E, quando se esperava mais, muito mais, praticamente ficaram por aqui. Pouco, ou enfatizando pouco, disseram sobre o que vão fazer para reparar os danos possíveis e impedir que um tal regabofe criminoso e hediondo possa continuar. Vão indemnizar as vítimas? O que vão fazer aos suspeitos de praticarem crimes tão hediondos? Quando vão ser afastados das suas funções os suspeitos que se mantêm no activo? Não deviam ter sido suspensos do próprio dia ou nos dias seguintes? Até para a sua própria defesa. Do que está à espera a hierarquia da Igreja Católica para proceder a esse acto, para mostrar que de facto está empenhada em tratar do problema? Ou estará à espera de que a onda de indignação causada pelo Relatório passe, deixando tudo na mesma?

Com isto não estou a dizer que os suspeitos devam ser condenados, sem defesa e julgamento. O que  me parece ser básico e dever ser feito de imediato é a suspensão das funções que desempenham de todos os que foram indiciados da prática daqueles crimes, para que não continuem com todas as condições para poder continuar a praticá-los, para defesa das vítimas, deles e da própria Igreja Católica. Não perceber isto ou não agir desta forma revela não só o desconforto da hierarquia eclesiástica como a sua falta de vontade de impedir tais práticas criminosas, tornando-se, cada dia que passa, mais conivente com a situação.

Até para a semana!

 

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Espaço dedicado ao Concelho de Vidigueira e à Região.

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