Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 19/11/2024

Marco Abundância 19/11/2024

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

Nova ordem mundial com geometria variável

Com a implosão da União Soviética e o simbólico derrube do muro de Berlim foi posto fim à antiga ordem mundial, que assentava na chamada Guerra Fria, que opunha a União Soviética aos Estados Unidos da América, duas potências militar e politicamente poderosas que representavam sistemas ideológicos divergentes e que lutavam pela hegemonia mundial, liderando os respectivos blocos.

A Guerra Fria foi assim chamada porque uma nova guerra mundial foi sendo evitada devido ao equilíbrio das forças em presença, suportadas pela NATO, promovida pelos Estados Unidos da América, que liderou a aliança militar entre os países do Bloco ocidental, e o Pacto de Varsóvia, promovido pela União Soviética, que liderou a organização militar dos países do Leste europeu.

Ainda antes da implosão da União Soviética, foi assinado um tratado internacional sobre controle de armas nucleares entre Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos da América, e Mikhail Gorbachev, presidente da União Soviética, o que abriu perspectivas de acabar com o equilíbrio do medo, que vigorou durante a Guerra Fria.

Foi “sol de pouca dura”, porque os Estados Unidos da América com a desagregação da União Soviética e da organização militar dos países do Leste europeu, assumiu-se, cada vez mais e de forma mais arrogante, como o “manda-chuva” do mundo.

Ou seja, em vez do equilíbrio entre dois blocos assentes nas respectivas alianças militares, passámos ter o bloco liderado pelos Estados Unidos da América, com o seu braço-armado da NATO, estendendo progressivamente a sua influência a cada vez mais países, impondo o seu poder, utilizando para o efeito todos os estratagemas e meios. Entrámos, assim, num período do vale tudo em nome dos superiores interesses do Ocidente, o mesmo é dizer, dos Estados Unidos da América.

Entretanto novas potências emergiram, como é o caso mais paradigmático dos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, que, paulatinamente e de forma sustentada, melhoraram a sua organização interna, criaram capacidades de produção que lhes permitiram melhorar significativamente as condições de vida das suas enormes populações, retirando muitos milhões de pessoas da pobreza, e os tornaram mais competitivos, em várias áreas, do que os Estados Unidos da América e a União Europeia, que assistiram à deslocalização de muitas empresas e indústrias para a China, Índia e outros países, designadamente do Pacífico e do Índico.

Esta deslocalização de empresas e de indústrias para a China, a Índia e outros países, foi acompanhada do saber-fazer e do conhecimento científico, técnico e tecnológico, dotando-os de uma capacidade de produção instalada cada vez mais especializada, o que progressivamente fez aumentar a sua riqueza produzida e as exportações, ao ponto do Ocidente ficar dependente de muitos produtos e equipamentos neles produzidos, como se viu durante a pandemia.

Se a ao crescimento do poder económico juntarmos o crescimento militar da China, da Índia e de ouros países, para além da demografia, não será difícil de compreender que eles têm vindo a adquirir peso no contexto global e que o centro de gravidade político e económico do planeta se tem vindo a desviar o para o Pacífico e o Índico.

Esta situação indicia que, poderá já ter terminado a ordem mundial estabelecida no final da Segunda Guerra Mundial e reconfigurada após a queda do Muro de Berlim, e faz antever um novo quadro definidor da política internacional, multilateral e de geometria variável, em que países com dimensão geográfica ou populacional ou peso económico e militar suficiente se juntarão, em alianças tácticas circunstanciais, de acordo com os seus interesses de momento, procurando evitar a supremacia de um qualquer país, isolado ou apoiado num bloco político-militar.

Parece que as posições dos diversos países serão mais pragmáticas, em função dos seus interesses – ou de quem os domina -, e menos determinadas por questões de sistema ideológico ou regime político. Que importância vão ter e como vão ser tratadas questões como o clima, a demografia e as migrações, a inteligência artificial, o estado de direito e os direitos humanos, a inclusão, a igualdade de oportunidades e o combate à pobreza, entre outras, na nova ordem mundial em construção e que impacto esta vai ter na vida das pessoas é que iremos ver nos próximos tempos.

Até para a semana!                                                                                  LG, 19/12024

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