Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 19/03/2024
Marco Abundância 19/03/2024
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
Afinal quem ganhou as eleições?
Pode parecer uma pergunta retórica mas não é, porque, mais de uma semana após as eleições para a Assembleia da República, continuamos sem os resultados definitivos, que só serão apurados amanhã, quando terminar a contagem dos votos da emigração.
Os resultados provisórios, sem aqueles votos, deram uma vitória à AD, com mais 51 mil votos e mais dois deputados do que o PS. Entretanto, as esquerdas e os ecologistas (PS, Bloco de Esquerda, CDU, Livre e PAN) tiveram mais 431 mil votos e mais três deputados do que as direitas democráticas (AD e Iniciativa Liberal). O Chega, com quem todos os partidos se recusaram a contar para governar, obteve um milhão e 108 mil votos e 48 deputados.
Ou seja, mesmo admitindo – o que é pouco provável -, que a contagem dos votos dos emigrantes lhe seja mais favorável e, com ela, o PSD consiga ultrapassar o número de deputados do PS, a AD, com a Iniciativa Liberal, não conseguirá ultrapassar o número de deputados do conjunto das esquerdas e ecologistas.
Assim e fazendo fé na garantia de Luís Montenegro de que não faria qualquer acordo com o Chega, é, no mínimo, questionável que: primeiro, Pedro Nuno dos Santos tenha sido tão lesto em assumir a derrota do PS, na noite das eleições, quando o resultado final ainda estava por decidir e em aberto; segundo, Luís Montenegro tenha feito o mesmo em relação à vitória da AD, pelas mesmas razões; terceiro, o Chega que, pela voz do seu líder, chegou a chamar prostituta política à AD, tudo esteja a fazer, desde a noite das eleições, para se deitar com ela, ou seja, a que a AD o leve para o governo; quarto, responsáveis da AD insistam em reclamar responsabilidade – leia-se que a deixem governar -, às oposições, designadamente ao PS, quando ainda não sabem se ganharam as eleições e ao contrário do que fizeram enquanto oposição; quinto, o Presidente da República tenha ouvido os partidos ainda antes dos resultados finais das eleições, quando estes poderão dar a vitória à AD ou ao PS.
Estas precipitações só se podem justificar pela ambição desmedida das direitas alcançarem o poder, com o apoio diligente de Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo aparente desejo de cura na oposição do novo líder do PS, face à tão criticada, e condenada pelo eleitorado, governação da maioria absoluta do seu partido.
Vamos ver o que os resultados finais, apurados amanhã, nos vão dizer – se confirmam os resultados provisórios ou, pelo contrário, dão a vitória ao PS. Se este último cenário se verificar, o que vão dizer e fazer os líderes partidários que, tão apressada e desrespeitosamente para os emigrantes, fizeram tábua rasa dos seus votos? E o Presidente da República que vai dizer e fazer, depois de ter ouvido os partidos com outro cenário na agenda? Vai indigitar para formar governo o líder do PSD, que quase de certeza não terá mais deputados do seu partido do que o PS? E, mesmo que tal não aconteça, se o conjunto das esquerdas e ecologistas mantiver a maioria, como tudo indica que aconteça, vai escolher Pedro Nuno Santos para formar governo?
Podem dizer que estou a especular, o que é verdade, mas os cenários que referi não são impossíveis nem de todo improváveis de se concretizar. E, por isso mesmo, exigia-se a todos maior responsabilidade nas declarações políticas que apressadamente proferiram. E ao Presidente da República, como garante do bom funcionamento das instituições e da estabilidade política, que exercesse o seu mandato com o distanciamento partidário, que, mais do que nunca, era recomendável.
Face a todos os cenários e acreditando que a AD não irá para a cama com o Chega, que mais responsabilidade – leia-se, cedência -, podem os seus responsáveis reclamar das oposições do que a prometida abstenção do PS na aprovação do Programa do Governo? E não venham os responsáveis da AD e Marcelo Rebelo de Sousa acusar as esquerdas e ecologistas, designadamente o PS, de, se não apoiarem o seu eventual governo, a estarem a empurrar para os braços do Chega, porque se tal acontecer – se a AD se entender com aquele partido -, confirma que não passa de uma prostituta política, que só quer ir para a cama (governo) não se importando com quem…
Ou seja e para terminar, a direita ficará em maus lençóis na cama que Marcelo Rebelo de Sousa tanto se esforçou por fazer. Pior mesmo só para Portugal e para os portugueses.
A ver vamos. Até para a semana! LG, 19/03/2024