Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 17/09/2024
Marco Abundância 17/09/2024
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
Começou o novo ano escolar
Já começou o novo ano escolar. Para a maioria da comunidade escolar é um regresso à escola e às suas rotinas. Para os que começam o percurso escolar é um mundo novo que se abre. Para os que mudam de escola ou de nível é, se não um mundo novo, pelo menos um ambiente diferente.
O início de um novo ano escolar é um período muito exigente, não só para a comunidade escolar, incluindo as famílias, embora seja a mais impactada. Também as entidades empregadoras, o comércio, os transportes e tantas outras áreas e actividades sentem e têm de se ajustar aos impactos da vida escolar que é retomada.
Os alunos, crianças e jovens, são naturalmente, os que mais intensamente sentem e vivem a entrada neste novo mundo ou o regresso a ele, com mais ou menos alterações, ajustamentos e adaptações, porque para eles foi criada a escola e se destinam o ensino e a educação que nela são ministrados. Para muitos deles é uma festa, com nervoso miudinho, agitação e reboliço, o regresso aos espaços que os acolhem, o reencontro com professores, auxiliares e outros profissionais de educação, o retomar o convívio com os colegas, o regresso às rotinas e às aprendizagens.
Para muitos professores é o culminar de um processo crítico de colocação, que põe termo a dúvidas, incertezas e ansiedades, depois da necessária reorganização da vida familiar e da operacionalização da instalação e de novos ambientes e rotinas, em resultado de mudança de escola, por vezes, a grande distância da residência familiar.
Os administrativos, auxiliares e alguns outros profissionais de educação acabam por sofrer menos impactos com a abertura do novo ano escolar, por terem situações mais estáveis. Mas não deixam, por isso, de sentir e viver igual e intensamente a agitação e o reboliço de terem novamente “a casa cheia”.
Infelizmente e confirmando a nossa dificuldade de nos organizarmos com eficácia e eficiência, o novo ano escolar abriu com os velhos problemas, apesar das promessas do novo governo de que tal não iria acontecer. Dezenas de milhares de alunos iniciaram o novo ano escolar sem ter professor a pelo menos uma disciplina. Em muitas escolas não existem os auxiliares necessários e mais adequados. Os alunos do ensino especial, pese embora os avanços registados, continuam a ser os mais penalizados com a falta de professores, terapeutas e auxiliares. Turmas demasiado grandes, onde professores têm dificuldade de chegar a todos e de manter a disciplina. Muitas escolas reabriram sem que as suas instalações tenham as condições mínimas de funcionamento. Em muitas não existem equipamentos adequados, nem os necessários planos de manutenção.
Há uns anos, um governo disse que havia professores a mais e travou a sua formação. Não foi feito o necessário planeamento da substituição dos professores que se reformam. A carreira docente tem vindo a ser desvalorizada, financeira e socialmente e a nível da autoridade. O resultado não podia ser outro que não a falta de professores, em consequência da falta de atractividade da profissão e da função. Mas os sucessivos governos não foram capazes de ter visão estratégica, de planear a longo prazo e de resolver, a tempo, os problemas que se foram agravando.
Face à situação, como podemos esperar uma melhor Educação, com a Escola e o Ensino no estado a que os deixaram chegar? Ou, para irmos mais fundo, “Até que ponto é libertadora a educação que construímos com as alunas e os alunos na escola?”, como interrogou a professora Leopoldina de Almeida, numa crónica numa rádio local, para concluir que “A utilização de metodologias dinâmicas em contexto educativo é tão mais empoderadora dos nossos jovens! Mas têm sido tão lentas as mudanças… continuamos a insistir nos mesmos formatos de sala de aula, nas mesmas exposições dos conteúdos, nos mesmos instrumentos de avaliação de há décadas atrás e cujos resultados insuficientes estão mais que estudados.”
Se nada ou pouco for feito para mudar o estado a que chegámos na Educação, bem podemos continuar a auto-elogiar-nos de que temos a geração mais qualificada de sempre, que os problemas vão continuar, ano após ano. E continuaremos a não a Educação libertadora de que Paulo Freire falava. Talvez não seja apenas por incompetência e falta de meios que os governos não têm feito mais pela Educação…
Um bom ano escolar para todos os que agora o iniciaram! Até para a semana!
LG,17/09/2024