Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 17/06/2025
Marco Abundância 17/06/2025
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
A esquerda é mais necessária do que nunca
Ouvimos e lemos, na opinião publicada e replicada na opinião pública, cada vez mais pessoas repetirem que já não faz sentido o confronto entre a esquerda e a direita, e a negarem a importância e a necessidade das ideologias e até da política.
Esta é a situação a que chegámos, cá e lá fora, um pouco por todo o mundo, depois de nos ter sido vendido o “fim da história“, por, com o derrube do Muro de Berlim, ter passado a haver apenas uma única potência – os Estados Unidos da América – e, consequentemente, o fim da guerra-fria, sustentando a teoria de que o capitalismo e a democracia burguesa constituem o coroamento da história da humanidade.
O triunfo da proposta capitalista sobre os demais sistemas e ideologias concorrentes foi apresentado como irreversível, apesar dos vestígios de nacionalismos e do avanço do islamismo, porque, com a “democracia liberal ocidental” como “solução final” do governo humano, teríamos o “fim da história” da humanidade.
Parece que se precipitaram, porque os Estados Unidos da América já não são a única potência mundial e a sua democracia está em crise, os nacionalismos estão a ser reavivados e o islamismo continua a avançar pelos quatro cantos do mundo.
Tudo isto está a acontecer porque o capitalismo e a “democracia liberal ocidental” estão longe de serem vistos como o “fim da história”, porque, apesar de todas as adaptações, não têm conseguido satisfazer as necessidades e aspirações de grande parte da população, o que tem facilitado o surgimento e crescimento de populismos, nacionalismos e salvadores das pátrias.
E não se podem desculpar com o comunismo, o socialismo ou a social-democracia, porque estes sistemas foram sendo derrotados. E mesmo quando alguns governos se apresentam como socialistas ou social-democratas aplicam políticas de direita.
É por isso que em Portugal, tal com noutros países, a esquerda é acusada do estado a que chegámos, por ter tido governos de partidos ditos socialistas ou social-democratas, quando na prática têm prosseguido as políticas da direita, o que tem levado à crescente responsabilização da esquerda por parte eleitorado.
Usando todos os meios e forças políticas que têm ao seu serviço, “Os mais ricos conseguiram convencer uma grande parte da população de que os seus problemas são causados por aqueles que são tão ou mais pobres do que eles”, como afirmou o filósofo catalão António Manegalo.
É por isso que trabalhadores e pequenos empresários aderem à ideia, defendida pela direita, que representa os grandes interesses económicos, de que só produzindo mais e mais riqueza é possível distribuir esta de forma mais justa.
Como se a riqueza produzida não estivesse a aumentar e a concentrar-se cada vez mais nas mãos de uns poucos e a aumentar as desigualdades e as exclusões.
Como se a riqueza fosse melhor distribuída, designadamente remunerando melhor o trabalho, através de salários e pensões mais justos, não dinamizasse mais a economia.
É esta a questão central que a esquerda deve assumir, porque só ela pode criar uma alternativa credível à direita e ao capitalismo, com mais desenvolvimento sustentado, coesão económica, regional e social, paz, respeito pelos direitos humanos, igualdade de oportunidades, combate à pobreza e a todas as exclusões e discriminações.
Estamos ainda numa fase em que predomina o pensamento único e a propaganda do capitalismo como o melhor, senão o único, sistema para a humanidade. Mas as contradições são muitas e vão-se revelando cada vez mais. A incapacidade de partidos da esquerda, ou apresentados como tal, em ser consequentes e aplicar os princípios e as políticas da esquerda quando no governo, tem gerado descrédito na esquerda e confusões nas pessoas que nela se reviam, levando-as a optar por partidos populistas ou movimentos inorgânicos, onde podem expressar o seu descontentamento e revolta.
Os que insistirem em prosseguir as políticas de direita, em nome da esquerda, estão a atrasar o processo de recuperação da esquerda. As pessoas querem que a esquerda use o poder para mudar de política, transformar a sociedade e servir todas as pessoas e não apenas as privilegiadas. É para isto que a esquerda faz falta e é mais necessária do que nunca.
Até para a semana! LG, 17/06/2025