Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 16/05/2023
Marco Abundância 16/05/2023
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
Falta voz à nossa região
Uma região para ser ouvida, em especial junto do Poder Central, tem de se fazer ouvir. E, para isso, para além das lutas populares e das reivindicações apresentadas pelas mais diversas entidades, tem de ter quem, quando fala, seja ouvido com respeito, pelo conhecimento e reconhecimento que tem.
Ora, nos tempos que correm, é difícil identificar líderes de opinião na e da nossa região. Quem, de entre os líderes dos partidos, os deputados, os autarcas, os líderes de instituições académicas ou outras instituições públicas, de associações empresariais, sindicais ou outras da região nos fazem parar para os ouvir ou ler o que têm para dizer? Quantos de nós os conseguimos sequer identificar?
Pode-se dizer que isso traduz a pobreza, o atraso e o abandono da região e que sempre foi assim. Não é verdade, pelo menos em absoluto. Já tivemos pessoas, nas mais diversas áreas, que foram capazes de se fazer ouvir, sendo porta-vozes reconhecidos da região e por esta e pelo Poder Central. E nos mais diversos quadrantes político-partidários, quer apoiantes do poder instalado quer das oposições.
Hoje, infelizmente, tal não acontece. Seja porque o partido do governo detém a maioria absoluta e controla todo o aparelho de Estado e grande parte do movimento associativo, que dele depende em grande parte, seja porque os líderes actuais se preocupam mais com as “suas quintas” do que com a região e mais com as suas carreias do que servir os que os elegeram para nos representar.
Dir-se-á que este é um problema que afecta o País e principalmente as regiões do interior. E, em boa parte, é verdade. Mas, se os tempos e as circunstâncias tal situação favorecem, não é menos verdade que, mais do que nunca, precisamos de quem dê voz às nossas necessidades, às nossas aspirações e às nossas reivindicações. Precisamos de líderes e não de funcionários, com ou sem “mangas de alpaca”.
Precisamos de políticos que não se deixem enredar na polititice, no que é imediato e pode influenciar as suas carreiras ou os seus partidos em detrimento de uma visão global, agregadora e mobilizadora da região, que sejam capazes de se fazer ouvir pelo acerto, pertinência e oportunidade das suas intervenções públicas. E que saibam dar-se ao respeito para serem respeitados.
Nem todos terão competências para liderar. Alguns desempenharão funções de liderança mais por falta de quem queira exercê-las do que pelas competências que têm para as exercer. Mas certamente que alguns terão essas competências e que não devem deixar de as potenciar por acomodação, por confinamento partidário ou outras quaisquer razões.
A nossa região precisa, talvez mais do que de qualquer outra coisa, de quem seja capaz, pelo seu conhecimento e reconhecimento, pela autoridade resultante da sua acção e intervenção, consiga ser seu porta-voz. Não de um nem de dois, mas das várias áreas, desigadamente das que mais precisam ser ouvidas.
Este é um grande desafio que se coloca aos que desempenham funções de liderança na nossa região. Que tenham uma visão global e integrada e que coloquem o todo à frente da parte que representam. Que em vez de acentuarem divergências sejam capazes de gerar convergências em torno que é essencial. Que saibam interpretar e representar o que é fundamental para o combate ao despovoamento e à desertificação e à luta pelo desenvolvimento sustentado da região. Que não se contentem com pequenas conquistas e realizações que satisfaçam o seu ego, os seus apoiantes mais directos ou clientelas de ocasião.
Que saibam exercer as funções que exercem em prol da região e das suas gentes, com espírito de missão, sem sectarismos partidários, sociais, territoriais ou outros quaisquer, com a mobilização e concertação possível entre os mais diversos agentes, fazendo da convergência e da união a força maior para fazer ouvir a sua / nossa voz em todos os sítios e junto de todos os que podem, de qualquer modo, contribuir para ajudar a nossa região no que mais precisa e é mais determinante para o seu desenvolvimento.
Até para a semana! Pensem nisso.
LG, 16/05/2023