Crónica de opinião – Lopes Guerreiro – 11/06/2024

Marco Abundância 11/06/2024

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

Resultados das eleições europeias não foram tão maus como se receava

Como apontavam todas as projecções, registou-se uma viragem à direita, com reforço da extrema direita, no novo Parlamento Europeu, embora aquela viragem não tivesse sido tão acentuada como muitos admitiam. Apesar disso, o crescimento da extrema direita atingiu valores mais preocupantes em países como a Alemanha, a Áustria, a Espanha, a Itália ou a França, onde o Presidente Emanuel Macron dissolveu o Parlamento e marcou eleições legislativas antecipadas. Na Bélgica o primeiro-ministro demitiu-se, abrindo caminho à sua substituição.

O PPE – Partido Popular Europeu ganhou as eleições, com mais 13 deputados, e o S&D – grupo dos Socialistas e Democratas, com menos dois deputados, ocuparão ainda assim 45% dos 720 lugares do Parlamento Europeu. Os Verdes, com menos 21 deputados, e os Liberais, com menos 24, foram as famílias políticas europeias que registaram quebras mais acentuadas.

Por cá e comparando com os resultados das eleições para o Parlamento Europeu de 2019, o PS ganhou, apesar de ter perdido cerca de dois pontos percentuais e um deputado. A AD não conseguiu vencer, mantendo o mesmo número de deputados, apesar de uma ligeira subida na percentagem da votação. Os grandes vencedores da noite eleitoral foram o Chega e a Iniciativa Liberal, com votações acima dos 9%, elegeram, pela primeira vez cada um, dois deputados para o Parlamento Europeu, quando há cinco anos o Chega ainda não existia e a Iniciativa Liberal não chegou a 1% da votação. O Bloco de Esquerda e a CDU elegeram apenas um deputado cada, tendo o Bloco de Esquerda tido uma redução para menos de metade e a CDU para dois terços das votações alcançadas em 2019. O Livre não conseguiu eleger um deputado, embora tivesse mais do que duplicado a votação, e o PAN teve uma quebra de quase dois terços na sua votação e não conseguiu voltar a eleger um deputado.

Em conjunto, a direita e a extrema direita elegeram 11 deputados, mais quatro do que em 2019 – o do PAN, um do PS, um do Bloco de Esquerda e outro da CDU -, e a esquerda elegeu 10, tendo perdido três.

Se compararmos com os resultados das eleições legislativas de 10 de Março, podemos fazer algumas leituras bastante diferentes. Desde logo, a AD, no governo há dois meses, não conseguiu repetir a vitória então alcançada, tendo sido derrotada pelo PS, o que não pode deixar de ser sublinhado. O Chega, que obtivera uma votação que o fez sonhar poder integrar o governo, viu essa votação esfumar-se para pouco menos de metade, o que levou a que o bom resultado alcançado acabasse por ter gosto a derrota, até porque tinha colocado como meta vencer estas eleições. A Iniciativa Liberal quase que duplicou a percentagem da sua votação, continuando a aumentá-la de forma progressiva. O Bloco de Esquerda, apesar de pequena, voltou a registar uma quebra percentual, enquanto a CDU conseguiu recuperar quase um ponto percentual. O Livre voltou a subir e o PAN a descer as  respectivas votações.

Os resultados obtidos permitiram aos líderes partidários, como quase sempre acontece, cantar vitória, mesmo tendo sofrido quebras nas votações e perdido deputados, porque, apesar de tudo, podia ter sido pior… A excepção foi André Ventura, que assumiu a derrota face ao objectivo de ganhar as eleições. Até porque não só ficou muito longe de as ganhar como ainda, e pior do que isso, registou uma quebra da votação para pouco mais de metade da percentagem obtida nas legislativas.

Se na União Europeia os resultados eleitorais ditaram uma reconfiguração do Parlamento Europeu, que irá obrigar a alguns ajustamentos na composição e funcionamento dos seus órgãos e nas suas políticas, por cá a vitória do PS deverá obrigar a alterações, pelo menos, na forma de como a AD está a governar. Ou a AD reconhece que tem o governo com um dos menores apoios parlamentares de sempre e, em função disso, procura entendimentos, fazendo cedências, nem que sejam pontuais, caso a caso, ou se alia com o Chega, ou dificilmente terá vida longa. A forma como o Chega, com os seus cinquenta deputados na Assembleia da República, vai reagir a esta sua primeira quebra eleitoral contribuirá, porventura decisivamente, para uma clarificação da situação política nacional e da sua evolução.

Até para a semana!

LG, 11-06-2024

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