Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 09/09/2025
Marco Abundância 09/09/2025
Remediar em vez de prevenir
Esta parece ser a nova máxima que substituiu a velha “mais vale prevenir que remediar”. Vem esta reflexão a propósito do acidente com o elevador da Glória, mas não só.
Na passada quarta-feira, o elevador da Glória, em Lisboa, descarrilou e o acidente provocou 16 vítimas mortais e cerca de 20 feridos. Do que foi possível apurar até ao momento, parece que a causa do acidente terá sido o cabo de ligação dos dois elevadores ter-se soltado. E, ao que parece também, a verificação das condições de segurança dessa amarração do cabo não fazia parte do contrato com a empresa que assegura a segurança do elevador.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, foi rápido em chamar, inusitadamente, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, que tutela a Carris, que gere o elevador, para uma reunião do Conselho de Ministros, após a qual, ambos fizeram declarações à comunicação social, sem direito a perguntas. E, como se isto não bastasse, Luís Montenegro apelou a que não se fizessem aproveitamentos políticos da tragédia, quando, com aqueles actos, foi o que ele começou por fazer, acentuando, no dia seguinte, com a presença do PSD em peso numa missa em homenagem às vítimas – Presidente da República, primeiro-ministro e ministros, presidente e vereadores da Câmara Municipal de Lisboa e respectivos assessores…
Quanto a responsabilidades até agora ainda ninguém as assumiu. Carlos Moedas que, quando na oposição, reclamou a demissão de Fernando Medina pela transmissão de dados de cidadãos russos por parte de serviços municipais às autoridades russas, agora recusa a demitir-se dizendo que não é bem a mesma coisa… Ao que tudo parece, tudo estarão a fazer para que, mais uma vez, a responsabilidade morra solteira, porque, desta vez, nem poderão responsabilizar o guarda-freio do elevador que tudo terá feito para o travar…
Mas como disse logo no princípio, esta incúria com a prevenção e a fuga às responsabilidades quando algo corre mal não se restringe apenas a esta tragédia. Trata-se de um padrão de comportamento que este governo tem acentuado.
Basta termos presente o que se tem passado com os incêndios. A não aplicação no terreno de medidas preventivas aprovadas na sequência dos grandes incêndios de 2017, o atraso na contratação de meios aéreos de combate aos incêndios, a demora no pedido de apoio externo, a descoordenação nas operações de combate, a deficiente comunicação da Protecção Civil e do Governo no esclarecimento e tranquilização das populações estiveram bem patenteadas.
Na Saúde, mortes por falta de assistência, partos em ambulâncias dos bombeiros e até na rua, urgências fechadas, atrasos inadmissíveis na marcação de rastreios de doenças, cirurgias, exames médicos e consultas, mais de um milhão de pessoas sem médico de família, banalizaram-se ao ponto de já serem considerados o novo normal, apesar das promessas do governo da AD em melhorar rapidamente a situação.
No Ensino, apesar das promessas feitas pelo governo, o último ano lectivo não correu de forma diferente dos anteriores, com milhares de alunos sem professores durante semanas e meses. O acesso ao ensino superior está a fechar-se para os alunos mais carenciados que não conseguem alojamento e, agora também, vão ter propinas mais caras. As condições de escolas e equipamentos são, nalguns casos, inadmissíveis. As dificuldades com a colocação de professores continua, pela distância de casa, pelos custos de alojamento e pela escassez de profissionais há muito anunciada.
Dispensam-se outros exemplos porque todos deles temos conhecimento. E todos radicam no mesmo – falta de programação e de prevenção. Não se antecipam as soluções para os problemas que se sabe que vão surgir. Logo se vê, havemos de nos desenrascar. Não se previnem os acidentes que podem acontecer. Se calhar não há azar, temos outras prioridades em que gastar o dinheiro.
E a responsabilidade pelas tragédias e acidentes que se podiam evitar ou atenuar e pelas consequências da falta ou atraso de soluções para os problemas há muito existentes e anunciados continua a morrer, quase, sempre solteira. Os raros bons exemplos de assumir a responsabilidade política parece não serem para seguir…
Até para a semana!
LG, 09/09/2025