Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 08/10/2024

Marco Abundância 08/10/2024

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

 

Alternativa ou alternância pantanosa

Um dos problemas que afasta muita gente da política, em especial os jovens, é a falta de verdadeiras, claras e distintas alternativas.

Com raras exceções e em curtos períodos, os maiores partidos sempre privilegiaram a alternância pantanosa, em que discutem o secundário e se entendem no essencial e é determinante para a manutenção da situação, à alternativa, que deve ser clarificadora de distintas visões da sociedade, de políticas diferentes que conduzam a resultados diferentes, não bastando a mudança de protagonistas.

A alternância favorece a dormência que conduz ao desinteresse das pessoas, leva à apresentação de propostas semelhantes para os problemas, o que dificulta a sua solução e a escolha dos eleitores, alimenta a perceção de que são todos iguais, que só querem é poder, e tende a tornar cada vez mais pantanosa a situação.

Na noite das últimas eleições legislativas, pelas palavras que proferiu, Pedro Nuno Santos pareceu estar convictamente apostado em assegurar que o PS se assumisse como verdadeira alternativa ao governo e, principalmente, à política da AD.

Pelo seu comportamento posterior, designadamente nesta discussão folhetinesca do Orçamento de Estado, parece ter sido “sol de pouca dura”. As poucas “linhas vermelhas” que traçou rapidamente se alaranjaram e, afinal e ao contrário do que chegou a afirmar, acabou por negociar o meio caminho, descaracterizando o que definira como principais bandeiras distintivas do governo da AD, e acabando por transmitir a imagem de que era mais um como os outros.

Ao contrário do que Pedro Nuno Santos afirmou, logo a seguir às eleições internas que ganhou, não parece que o PS esteja unido e que a sua liderança esteja a ser aceite por todo o partido e a contribuir para a clarificação de uma política verdadeiramente alternativa da política da AD.

Pedro Nuno Santos parece ter abandonado o que melhor o identificava – a defesa de uma política de esquerda, com entendimentos à esquerda se necessário, a clareza na demarcação de políticas e práticas distintas da direita, a convição e a frontalidade com que se batia pelas suas ideias, – e que terá contribuído para a sua eleição como secretário-geral do PS, ao optar agora  por uma postura mais conciliadora e convergente, internamente, com a corrente mais centrista com quem disputou a liderança do partido, e, no País, com o PSD.

Se com a sua posição inicial assumia, tal como afirmou, a liderança da oposição ao governo da AD, obrigando este a fazer cedências e a aproximar-se das posições do PS, se quisesse ver as suas propostas aprovadas, resvalando para a alternância à AD, com cedências até nas poucas linhas vermelhas que traçou, o que é revelador do seu realinhamento político com o governo da AD, está a contribuir para que o Chega assuma, cada vez mais, o papel de líder da oposição ao governo da AD, com todas as consequências daí resultantes para o PS, para o País e para a democracia.

Se este realinhamento político de Pedro Nuno Santos for por diante, será André Ventura a ter todo o espaço de intervenção política para se assumir como principal líder da oposição ao governo, relegando Pedro Nuno Santos para um papel secundário na política pantanosa do centrão de interesses e o PS para um papel de bengala do governo da AD.

Pedro Nuno Santos começou por afirmar que cabia a Luís Montenegro criar as condições para que o Programa do seu Governo passasse na Assembleia da República e pudesse governar. Mas, ao afirmar que o PS não votaria a favor de qualquer moção de censura ou de apoio ao governo reduziu a sua margem de manobra e contribuiu para alimentar as expectativas de que iria deixar a AD governar durante toda a legislatura, o que Luís Montenegro e os seus apoiantes têm explorado até à exaustão.

Ao alinhar com a direita e repetir, vezes sem conta, que o PS também não desejava eleições, embora acrescentando que não as temia, e que era a AD que as queria, deixou a perceção na opinião pública de que, de facto, as temia e que, por isso, tudo faria para que não não se realizassem já. O que, convenhamos, não é revelador de uma posição de confiança e, pior do isso, não foi capaz de se fazer ouvir e convencer a opinião pública de que o governo só cairia por sua vontade ou por, mais uma vez, Marcelo Rebelo de Sousa dissolver a Assembleia da República.

Até para a semana!

Lopes Guerreiro, 08/10/2024

 

 

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