Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 07/11/2023

Marco Abundância 07/11/2023

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

Mensagens e mensageiros

Já há mais de um ano que escrevo umas coisas – chamar-lhe crónicas parece-me pretensioso -, propositadamente para ler na Rádio Vidigueira. Nem sempre é fácil encontrar assuntos de interesse e com oportunidade para vos transmitir a minha visão sobre eles. Se há semanas em que tenho vários temas sobre os quais podia escrever e pego num e é só escrever quase num único fôlego, há outras em que tudo parece já ter sido escrito e dito e torna-se difícil discorrer sobre um tema em particular.

Mais do que esforçar-me por defender “a minha dama”, tenho tentado levantar questões que convidem à reflexão, encarando os assuntos abordados por diversos ângulos. Mesmo assim, no meu blogue “Alvitrando”, onde publico os textos depois de apresentados na Rádio, sou frequentemente acusado de ser faccioso…

Vivemos tempos difíceis e complexos, em que temos dificuldade de ouvir os outros e em que facilmente acusamos os outros de estarem do outro lado e contra nós. Como se tivéssemos de estar sempre em confronto uns com os outros, como se existissem apenas dois lados e tudo tivesse de ser visto a preto e branco. O mundo, a vida e a forma como nos relacionamos uns com os outros e com o meio ambiente são cada vez mais complexos e mudam com grande rapidez. Cada vez mais o real e o virtual se confundem ou são confundidos.

Raros são os órgão de comunicação social que fazem jornalismo a sério. Cada vez usam mais as fontes anónimas, ouvem menos as diversas partes envolvidas, recorrem mais às agências noticiosas e às redes sociais para divulgar notícias, confundindo estas com publicidade, quantas vezes enganosa, ou opinião. Pouco do que ouvimos, lemos e vemos na comunicação social e, principalmente, nas redes sociais merece o crédito suficiente que nos dispense da necessidade de confirmar a sua veracidade.

E tudo isto contribui para intoxicar o ambiente em que vivemos, tornando-o irrespirável em muitas situações, gerando todo o tipo de conflitos e tensões, alguns de gravidade extrema para a segurança e a paz em muitas regiões e até no mundo.

E com isto não estou a confundir a mensagem com o mensageiro, embora um dos grandes problemas é o, quase total, controlo dos mensageiros pelos que produzem e têm interesse na divulgação das mensagens.

Esse controlo é usado na construção de uma versão dos acontecimentos, apresentada como a única versão, defendida por, quase, todos os mensageiros. Sim quase todos, porque para dar maior credibilidade à sua versão até convidam algumas vozes dissonantes, que são descredibilizadas das mais diversas formas. E assim vão construindo a sua verdade e o seu pensamento, apresentados como únicos por serem defendidos de forma dominante pelos mensageiros de serviço.

É neste ambiente, que tudo o que é escrito ou dito que não se condiciona aos ditames de quem procura impor a sua verdade como se fosse a única, porque apresentada de forma dominante, e recusa o pensamento único, é por alguns recebido com acrimónia e acusado de faccioso.

É por tudo isto que, em vez de nos portarmos como mata-borrões e absorvermos acriticamente tudo o que nos apresentam, devemos procurar versões dissonantes da versão única que nos querem passar e reflectir sobre elas, procurando tirar as nossas próprias conclusões. Seguramente que há opiniões dominantes sobre qualquer assunto ou acontecimento. O problema está quando tais opiniões nos são apresentadas como dominantes, utilizando diversos meios para lhe dar credibilidade, quando de facto o não são e dessa forma condicionam a opinião pública.

Faz hoje um mês que o Hamas invadiu Israel e chacinou uma multidão que se reunia num festival, cometendo os crimes mais hediondos. Israel respondeu com uma declaração de guerra contra o Hamas, que na prática se traduziu numa invasão e ocupação da Faixa de Gaza, obrigando centenas de milhares de palestinianos a abandonar as suas casas e deslocarem-se para o Sul, impediu o abastecimento àquele território e às mais de dois milhões de pessoas que nele vivem, a bombardeamentos a hospitais, escolas, incluindo da ONU, com o argumento de que escondiam terroristas do Hamas, 10 mil mortos, 60% dos quais crianças e mulheres e mais do dobro de feridos, que não têm onde e como ser tratados.

A opinião pública e publicada que coincidirem, e bem, na condenação generalizada à chacina provocada pela Hamas e apoiou Israel, passou com o evoluir da situação a dividir-se, face à resposta desproporcionada de Israel, com a prática de diversos crimes de guerra contra a Humanidade, que já levou à morte de 10 mil pessoas, 60% das quais crianças e mulheres e demais consequências que daí estão a resultar.

Tal como António Guterres, o secretário-geral da ONU, recordou e bem, este conflito,  com origem criminosa e que não merece qualquer desculpa ou atenuação, não nasceu do nada. E não será certamente com tomadas de posição simplistas em defesa dos bons contra os maus, que um conflito tão complexo e que nunca foi resolvido, apesar de se ter chegado a vias de solução, sempre boicotadas, será resolvido.

Como aqui falei recentemente, é urgente retomar e reforçar as diplomacias. O caminho terá de ser sempre o da procura de soluções pacíficas, que gerem situações equilibradas, por mais instáveis que sejam. O caminho da guerra serve seguramente os interesses de alguns, mas leva inevitavelmente a chacinas e outros crimes contra populações indefesas, o que devia merecer uma condenação mais generalizada.

Pensem nisso. Até para a semana!

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