Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 06/06/2023

Marco Abundância 06/06/2023

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

 

Portugal está melhor, a vida dos portugueses nem por isso

O primeiro-ministro e o governo repetem, com frequência, que Portugal está melhor e divulgam indicadores a confirmar essas garantias, designadamente os da redução do défice para próximo do zero e da significativa redução da dívida pública. Apontam, para além disso, a progressiva queda da inflacção.

Paralelamente, quase todos os dias anunciam novos planos e projectos, bem como reformas na administração pública – na Saúde e na concentração dos serviços desconcentrados nas CCDR, por exemplo -, prometendo que vão contribuir para a melhoria do País e dos portugueses.

Insistem e repetem indicadores do investimento e reforço do Serviço Nacional de Saúde, da Educação, da Justiça, da Segurança Social, do apoio às empresas e famílias  e do crescimento dos salários.

Entretanto, surgem todos os dias e com cada vez maior frequência e em mais áreas manifestações de descontentamento de diversos sectores, que se traduzem em greves, concentrações e manifestações, vigílias, tomadas de posição públicas, que mostram que, afinal, as coisas não estão assim tão bem para os portugueses.

Na Saúde, voltou a aumentar de forma significativa o número de portugueses sem médico de família, a demora no tempo de marcação de consultas e de cirurgias, com a consequente dificuldade de diagnóstico e tratamento de algumas doenças, o encerramento de serviços, designadamente de urgências e maternidades, e utentes e pessoal médico não param de reclamar melhores condições.

Na Educação, este ano lectivo ficou marcado por um braço de ferro entre os professores e outros profissionais e o Ministério, que se traduziu em greves sucessivas e diversas e que gerou uma grande instabilidade nas escolas e dificuldades na aprendizagem dos alunos e na vida das famílias.

Na Justiça, continuamos a assistir “a muita parra e pouca uva”, ou seja, à divulgação de mais investigações e abertura de processos, que se eternizam no tempo, depois das normalizadas fugas de informação, que contribuem para julgamentos sumários na praça pública e que, muitas vezes, não chegam a ser julgados nos Tribunais.

A Segurança Social tem vindo a anunciar frequentes novos apoios, que muitas vezes parecem ser mais esmolas do que apoios solidários a quem precisa. O número de pessoas a recorrerem a ajuda de entidades particulares não parou de crescer. Trabalhadores que, apesar de terem trabalho e remuneração, não conseguem ter uma vida digna e caem na pobreza porque o salário não chega. E isto apesar das frequentes promessas de mais justa repartição da riqueza e de progressiva melhoria dos salários e reformas e apoios sociais, que tardam em chegar às pessoas.

No Ambiente e na Agricultura, apesar dos inúmeros anúncios de políticas e medidas de combate à crise climática, continuamos a assistir a frequentes atentados contra o Ambiente e a Natureza e à falta de apoios à Agricultura, principalmente à familiar, fundamental à preservação do Ambiente e ao combate aos incêndios.

Este é o retrato do País que temos e das dificuldades com que se debatem muitos, demasiados, portugueses. Bem diferente do que o governo fala. O que quer dizer que, apesar da melhoria de alguns indicadores de crescimento económico, os números da economia ainda não chegaram às pessoas. O governo não deve contentar-se com o crescimento económico, os lucros das grandes empresas e os indicadores macro-económicos, tem de ser mais exigente e eficiente no fomento do desenvolvimento do País e consequente melhoria das condições de vida dos portugueses.

Não é por isso de estranhar que o Presidente da República, que anda mais pelo País real, tenha decidido reforçar a vigilância sobre a governação, apontando o que continua mal ou está pior, dando voz a quem não a tem ou precisa de ser mais ouvido. Marcelo Rebelo de Sousa tem vindo a acentuar a sua postura de provedor dos portugueses, evidenciando o que precisa de melhor intervenção do governo.

Se António Costa, na auto-suficiência da sua maioria absoluta, não quer ou não é capaz de ouvir os portugueses, que, pelo menos, oiça o Presidente da República….

Até para a semana!

LG, 06/06/2023

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