Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 03/06/2025
Marco Abundância 03/06/2025
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
Presidenciais com candidaturas da direita e a esquerda à espera de candidato
Henrique Gouveia e Melo é Almirante, tendo feito mais de dois terços da sua carreira na área operacional, boa parte dela como comandante de submarinos. Era um ilustre desconhecido antes de ser nomeado, pelo governo do PS, Coordenador do Plano de Vacinação contra a COVID-19, apoiado por uma equipa da Armada, para pôr ordem no caos deixado pelo seu antecessor.
Pouco mais de um ano depois de ter deixado estas funções, foi nomeado, também pelo governo do PS, Chefe do Estado Maior da Armada, depois de um polémico processo de demissão do antecessor, que gerou mal estar entre o governo e o Presidente da República, por não ter sido previamente informado da proposta.
Gozando do reconhecimento público pela missão cumprida na vacinação contra a COVID-19, foi condecorado pelo Presidente da República, pela sua carreira militar, e recebeu o Globo de Ouro de Mérito e Excelência, passando a ser apontado como potencial candidato a Presidente da República.
Gouveia e Melo sempre negou tal intenção, chegando a dizer que seria “um péssimo político” e que “a democracia não precisa de militares”, esperando não cair na tentação da política e que, “se isso acontecer, deem-me uma corda para me enforcar.”
Mas, assim que deixou o cargo de Chefe de Estado Maior da Armada e passou à reserva, afirmou ser “altura de fechar um capítulo” da sua vida e iniciar “outro”, abrindo assim o caminho para Belém, como o próprio assumiu indiretamente.
Apesar de ter sido nomeado pelo governo do PS para coordenar o Plano de Vacinação e chefiar o Estado Maior da Armada, foi o Chega o único partido que admitiu poder vir a apoiar a sua candidatura à Presidência da República, o que o levou a dizer situar-se “entre o socialismo e a social-democracia” e defender a “democracia liberal como regime político”, como forma de se distanciar daquele partido.
É curioso, ou talvez não, que as maiores críticas à carreira e à candidatura de Gouveia e Melo surjam de camaradas seus da Armada, que o acusam de ser ambicioso e de não olhar a meios para alcançar os fins, entre outras coisas.
A quatro dias das eleições legislativas e depois de ter assumido que “não queria interferir nas eleições”, disse que ia “avançar”, justificando o anúncio com o facto de precisar de tempo para enviar os convites para a apresentação da candidatura.
Gouveia e Melo apresentou formalmente a sua candidatura no mesmo dia em que o Conselho Nacional do PSD decidiu formalizar o apoio do partido à candidatura de Marques Mendes. Na apresentação da candidatura de Gouveia e Melo estiveram antigos governantes, deputados e autarcas do PSD, e também alguns do PS e do CDS, para além de empresários e outras figuras públicas. Mais tarde, foi apresentado Rui Rio como Mandatário da sua candidatura, quando a Mandatária da candidatura de Marques Mendes é Manuela Ferreira Leite, antiga líder do PSD.
Ou seja, enquanto a candidatura de Gouveia e Melo angariou apoios de figuras do PSD e até do PS e do CDS, alargando a sua base de apoio, a candidatura de Marques Mendes viu reduzida a sua base de apoio com a fuga de alguns “barões” do PSD para a candidatura do Almirante, incluindo a do seu anterior líder, que fez questão de dizer que era preciso evitar a eleição de candidatos promovidos pela comunicação social.
Entretanto, o PS, como quase sempre tem acontecido, ainda não apoiou nenhum candidato, com o argumento de que estava à espera que estes se apresentassem, uma vez que até agora só António José Seguro, seu antigo líder, manifestou vontade de avançar, mas que tem gerado pouca simpatia e alguma rejeição, mesmo no PS.
Perante a apresentação de duas candidaturas de centro-direita, uma populista e outra manifestamente partidária, e, eventualmente, a confirmação de outras nesta área, é fundamental que o PS, com o apoio de todas as esquerdas, promova e apoie a candidatura de uma figura de prestígio reconhecido, de preferência independente.
Um a candidatura que consiga agregar toda a esquerda, mobilizar abstencionistas e envolver pessoas de outras áreas, que se revejam numa proposta que se comprometa a cumprir e fazer cumprir a Constituição e aponte os principais desígnios para Portugal nos próximos anos, com possibilidades de ganhar, face à divisão da direita e porque os portugueses não querem continuar com todos os ovos no mesmo cesto.
Até para a semana! LG, 03/06/2025