Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 03/01/2023

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

“Nascer em Segurança” – o que fica para além da propaganda governamental?

Mais uma vez o governo mostrou do que é capaz a sua máquina de propaganda, lançando o programa – ou slogan? -, “Nascer em Segurança”. Tanto quanto se pode perceber, com tal programa o governo procurou, evitar antes de mais, mortes de crianças como a que levou à demissão da ministra da Saúde Marta Temido, cuja mãe andou de hospital em hospital. Com ele ter-se-á, fundamentalmente, tentado assegurar o funcionamento de serviços de urgência de ginecologia/obstetrícia e bloco de partos nalguns hospitais e informação às parturientes em relação aos locais onde se deviam dirigir para ter os seu bebés.

Entretanto, Beja e outros hospitais ficaram pelo Natal e passagem de ano sem ter esses serviços a funcionar, obrigando, no caso de Beja, tal com já acontecera noutras alturas, as parturientes a deslocarem-se largas dezenas de quilómetros para os seus bebés pudessem nascer em segurança…

Nestes casos, o que trouxe de novo, para além da informação sobre o local onde se deviam dirigir as parturientes, este programa “Nascer em Segurança”? E o que trará no futuro se, tal como agora, não forem contratados os médicos necessários ao funcionamento em segurança daqueles serviços? E, mais grave ainda, como poderão “nascer em segurança” no futuro os bebés, se forem encerradas as maternidades que um estudo realizado e, por enquanto, mantido na gaveta aponta?

Será isto que vai acontecer em Beja? Serão as mães obrigadas a dirigirem-se a Évora para terem os seus bebés, tendo de percorrer as tais muitas dezenas de quilómetros, nem sempre por estradas em boas condições de circulação? Quantas delas não irão ter os seus bebés em ambulâncias de bombeiros?…

Se isto acontecer – e seria bom que os nossos autarcas acompanhassem este processo e tudo fizessem para evitar que seja concretizado -, será mais uma forte machadada no Hospital Distrital de Beja e na atractividade da região de Beja. Quantos casais jovens quererão aqui viver se não houver condições que permitam que os seus filhos nasçam em segurança, desde logo de proximidade?

Está na hora do PS mostrar do que é capaz. Tal como disse o Presidente da República no seu discurso no primeiro dia do ano, o PS tem maioria absoluta e tem absoluta responsabilidade por aquilo que fizer o seu governo. Não se pode desculpar com os os parceiros que lhe permitiram que governasse durante seis anos… A nível regional, com a maioria dos municípios a serem geridos por autarcas do PS, também o PS e o seu governo não se podem queixar de dificuldades ou entraves causados por outros.

Assim sendo, será da exclusiva responsabilidade do PS – do seu governo e dos seus autarcas -, o eventual encerramento dos serviços de urgência de ginecologia/obstetrícia e bloco de partos do Hospital de Beja, com todas as consequências nefastas para a região que tal medida terá.

Esperemos que mais esta remodelação do governo não se fique por mais uma mudança de cosmética e seja aproveitada esta oportunidade por António Costa para uma recomposição do Governo que assegure a este uma coesão e operacionalidade, que não tem conseguido ter, apesar da maioria absoluta.

A estabilidade política, ao contrário do que muitos procuram vender, não é assegurada por o Governo ser sustentado por uma maioria absoluta na Assembleia da República, mas sim por uma política e por políticas que promovam o desenvolvimento económico e social, com uma mais justa repartição da riqueza gerada. E estamos numa fase, como sublinhou o Presidente da República, ideal para o conseguir, tendo em conta os largos milhões de que o país dispõe dos diversos fundos comunitários.

O PS, António Costa e o seu Governo, não têm mais mais margem para continuarem a desperdiçar estas oportunidades únicas. Esperemos que estejam à altura dos desafios.

Desejo a todos um bom ano novo, com saúde e tudo o que possa contribuir para o vosso bem estar e felicidade! Até para a semana!