Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 02/05/2023
Marco Abundância 02/05/2023
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
O Dia Internacional dos Trabalhadores continua a ser mais um dia de luta do que de festa.
O Dia Internacional dos Trabalhadores é uma data comemorativa internacional, dedicada aos trabalhadores, celebrada anualmente no dia 1 de maio em quase todos os países do mundo. A homenagem evoca o dia 1 de maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago com o objetivo de conquistar melhores condições de trabalho, principalmente a redução da jornada de trabalho diária, que chegava a 17 horas, para oito horas.
Ou seja, há cerca de 140 anos que os trabalhadores lutam pelo direito ao descanso, limitando a jornada de trabalho a um terço do dia. E, passados quase 140 anos, essa luta continua actual, porque em muitos locais de trabalho ainda não foi adoptada esta medida ou porque, embora adotada, é frequentemente ultrapassada com horas extraordinárias de trabalho, muitas vezes sem qualquer pagamento.
Mas, pior do que isso ainda, é que em muitos sítios continua ou voltou a haver trabalho escravo, em que os trabalhadores são obrigados a trabalhar, sem a remuneração devida, de forma a ficarem na dependência de quem os arregimentou, através dos mais diversos estratagemas. É isso o que se verifica tantas vezes com os imigrantes, arregimentados com a promessa de trabalho remunerado e com direitos e que, depois de chegados aos países de destino, ficam na total dependência de quem os recrutou, a trabalhar sem quaisquer direitos e a viver em condições inumanas.
Mas, sem mesmo chegar a esse extremo, muitos trabalhadores continuam a viver abaixo do limiar da pobreza, vendendo a única riqueza de que dispõem – o trabalho. Como é possível, em pleno Século XXI, com todos os progressos técnicos e tecnológicos, trabalhadores continuarem a trabalhar sem limites e a não conseguirem ter um vida digna para si e para as suas famílias?
Depois de tantas promessas de usar o conhecimento e as novas tecnologias para aliviar o trabalho e libertar o tempo dos trabalhadores para a família, o lazer e outras ocupações, assistimos à velha receita de manter ou agravar as condições dos que conseguem trabalho, mantendo e aumentando o exército de desempregados. Em vez de criarem emprego com direitos para os jovens, assistimos ao aumento do trabalho precário e ao aumento da idade para a reforma.
Que sociedades estamos a construir em que as desigualdades se acentuam cada vez mais e sempre em benefício do capital, cada vez mais concentrado na mão de um pequeno número dos seus detentores? Que políticas escolhemos ou permitimos que sejam implementadas que cada vez mais agravam as condições de quem trabalha?Que políticos elegemos e permitimos que governem que aumentam a carga fiscal sobre o trabalho sem que a receita desses impostos contribua para assegurar-nos condições de saúde, habitação e educação dignas?
Por tudo isto é fácil concluirmos que, quase 140 anos depois daquela greve iniciada em Chigado pela jornada das oito horas de trabalho, continua a haver mais razões para os trabalhadores manterem a luta por trabalho com direitos e condições dignas, do que para comemorarem em festa o seu Dia Internacional.
É triste que assim seja e isso devia obrigar todos os decisores políticos e empregadores a uma profunda reflexão sobre as razões para que essa situação de falta de respeito pelos direitos humanos continue e o que fazer para a reverter, combatendo as desigualdades e criando as condições de trabalho dignas.
Não se verificando isso, não resta aos trabalhadores outra alternativa que não seja a luta, como sempre têm feito, com maior ou menor intensidade, apesar de todas as dificuldades que lhe são criadas.
Nenhum trabalhador, digno da sua condição, por melhor que esta seja, pode alhear-se da falta de condições que afecta a esmagadora maioria de trabalhadores e deixar de se solidarizar com a sua luta por melhores condições. Nunca nenhum trabalhador deve dar por adquirido e consolidado qualquer direito conquistado, porque, como estamos a assistir, quando menos esperamos, eles podem ser postos em causa.
Viva o Dia Internacional do Trabalhador!
Até para a semana!
LG, 02/05/2023