Crónica de opinião – Lopes Guerreiro – 07/01/2025
Marco Abundância 07/01/2025
Hoje terça-feira é dia do regresso da crónica de opinião de Lopes Guerreiro, a primeira de 2025.
Para pior já basta assim
Desejo a todos um bom ano ou, se tal não for possível, o melhor que conseguirem!
Na mudança de ano somos sempre tentados a fazer o balanço do ano que passou e a tentar perspectivar o que o novo ano nos pode trazer, individual e colectivamente. É isso, ainda que a traços largos, que vou hoje fazer.
Em 2024, acentuaram-se alguns dos sinais mais negativos que vinham já de anos anteriores. A concentração da riqueza nas mãos de alguns poucos e as consequentes desigualdades não pararam de se acentuar. A pobreza e, nalguns casos mesmo, a miséria não só não foram travadas como em muitas latitudes aumentaram. O combate às alterações climáticas e às suas consequências para o planeta e as populações ficou muito aquém das necessidades, com as consequências a que estamos a assistir com cada vez mais frequência, persistência e em regiões e locais nunca vistas. As guerras e outros conflitos armados também não só não terminaram como se alargaram a outras regiões e países. A instabilidade política instalou-se em mais países, em resultado de conflitos entre facções, de golpes de estado, mais ou menos declarados, ou de eleições cujos resultados não foram reconhecidos por todos ou não permitiram a formação de maiorias que sustentassem os governos. A concentração dos meios de comunicação, com especial destaque para as redes sociais, acentuaram o poder de influenciar a opinião pública através da opinião publicada, criando nas pessoas as percepções que melhor servem os interesses dos seus detentores.
Esta é apenas uma breve resenha do muito que se poderia descrever do que aconteceu no ano que agora terminou, que não foi, de facto, um ano bom para a nossa casa comum. Naturalmente que é uma análise global, porque nem tudo foi mau para todos em todo o lado. Mas parece-me traduzir sucintamente o que se passou. E pior do que isso ainda são as perspectivas que se abrem para este novo ano, que não são mais animadoras, antes pelo contrário. Costuma-se dizer que para pior já basta assim, mas, neste caso, acho que ainda não podemos dizer que já atingimos o pior, porque este parece estar ainda para vir, com a manutenção ou mesmo agravamento da situação registada.
Não me vou, por isso, alargar nas perspectivas para 2025, limitando-me a apontar apenas algumas situações que, por nos estarem mais próximas, nos são mais sensíveis e poderão contribuir para tentarmos perceber o que ele nos pode trazer.
Uma das principais incógnitas é o que a nova liderança dos Estados Unidos da América vai provocar de diferente nas suas relações com o resto do mundo, a começar pela Europa, e no mundo.
Na Europa, importa perceber que alterações vão acontecer não só na União Europeia e não só pelas suas novas lideranças e, eventuais, mudanças de políticas, organização e funcionamento, mas também pela evolução política em países como a Alemanha e a França, tal como noutros em que a instabilidade e a dificuldade de encontrar soluções maioritárias parecem ter vindo para ficar.
Em Portugal, adivinha-se um ano animado, mais pelas percepções geradas pelo governo e pela opinião publicada do que pela realidade dos acontecimentos. Não é, por isso, de estranhar que, apesar das eleições presidenciais só se realizarem em 2026, elas estarem a dominar o espaço mediático, relegando para segundo plano as eleições para as autarquias locais e, também, o futuro do governo, quer quanto à sua governação quer na perspectiva da votação do próximo Orçamento de Estado, cujo eventual chumbo poderá obrigar o governo a manter-se em gestão por largos meses.
As, quase certas, eleições na Região Autónoma da Madeira não deixarão de permitir fazerem-se leituras prospectivas para todo o País.
A nível local vamos andar largos meses ocupados com o processo eleitoral autárquico. Para já, embora já sejam conhecidos, formal ou informalmente, muitos cabeças de listas, muitos outros irão ser anunciados neste início de ano. Pelo que se conhece até ao momento, parece não serem de esperar grandes surpresas. Parece que iremos ter mais do mesmo ou, mesmo, pior, salvo raras e honrosas excepções.
Por tudo isto, ao desejar-lhes, no início desta crónica, um bom ano, acrescentei “ou, se tal não for possível, o melhor que conseguirem!”
Até para a semana! LG, 07/01/2025