Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 05/12/2023
Marco Abundância 05/12/2023
A crónica de opinião de Lopes GUerreiro.
Adivinham-se tempos políticos muito agitados
Mais crescimento económico, com respeito pelo meio ambiente, melhor desenvolvimento social e humano talvez seja um objectivo que satisfaça todos os eleitores. Mas se falarmos em melhor distribuição da riqueza, valorização do trabalho, redução das desigualdades e eliminação da pobreza já haverá quem não queira e quem torça o nariz mesmo tendo a ganhar com isso, apesar da esmagadora maioria ter esse objectivo em mente quando vota.
Um estado mais social, em que através da cobrança de impostos, são assegurados a todos serviços gratuitos, ou tendencialmente gratuitos em função da evolução da situação económica, de saúde e educação, pensões e apoios sociais a quem deles necessita, para além das chamadas funções de soberania, como a segurança, externa e interna, ou a Justiça, ou, um estado mais liberal, em que cada um se desenrasque como pode e consegue, com cobrança de impostos reduzida ao mínimo e, em consequência, com as funções sociais predominantemente privadas e as funções de soberania mínimas e, mesmo estas, podendo ser privatizadas no todo ou em parte é uma opção que se coloca ao eleitorado, embora nem sempre de forma suficientemente clara e distintiva, que facilite a melhor opção aos votantes.
O alinhamento internacional, mais ou menos, subserviente aos Estados Unidos da América, numa aceitação do unilateralismo como forma única de assegurar o concerto das nações, com recurso a todos os meios, ou a defesa do multilateralismo, com a convivência pacífica de diferentes associações de nações em função de interesses diversos dividem igualmente os eleitores, muitas vezes influenciados por ideias preconcebidas ou com maior propaganda.
Para além destas ideias gerais, o que mais divide os eleitores é a forma de as por em prática e saber quem oferece melhores condições para as concretizar. E é aqui que têm sido criadas as maiores confusões nos eleitores através da apresentação de situações dadas como factuais que nenhuma ou pouca adesão têm com a realidade.
Uma das que têm sido mais vendidas é a de que uma maioria absoluta de deputados asseguraria uma maior estabilidade política. Para além de outros exemplos mais distantes, temos este agora, em que dos três governos do PS o de maioria absoluta foi o que menos durou. E isto aconteceu porque, ao contrário do que dizem, a estabilidade política depende fundamentalmente da satisfação das necessidades, aspirações e expectativas das pessoas e não tanto de maiorias de deputados.
Outra é a que que as eleições servem para escolher o primeiro-ministro. Ora, em 2015, António Costa foi nomeado primeiro-ministro sem ter ganho as eleições, ficando provado que os governos são formados em função das maiorias que se formam na Assembleia da República e não apenas pelos partidos mais votados, nem lideradas pelos líderes destes.
Outra ideia que alguns tentam impor é a de que as eleições se ganham sempre ao centro e que as melhores soluções governativas são as resultantes de entendimentos entre os partidos do centrão. Ora, para além de raras vezes ter existido uma solução governativa formada pelos partidos do centro, o que mais se tem registado é a formação de maiorias contando com um dos lados dos extremos. E o que os tempos mais recentes nos mostram é uma maior fragmentação do espectro partidário, primeiro à esquerda e agora à direita, o que obrigará a maiores concertações entre partidos, à semelhança do que já acontece em muitos outros países.
E, salvo surpresa de última hora, esta última tendência tenderá a acentuar-se, com algum esvaziamento dos partidos do centro para os restantes já existentes ou alguns outros que venham a surgir, o que se deve à insatisfação generalizada com as políticas dos governos alternantes do centro. Quer à esquerda quer à direita as pessoas têm melhores recordações dos governos que contaram com o apoio de outros à sua esquerda ou à sua direita, respectivamente. Por outro lado têm ainda fresca na memória os resultados de mais uma maioria absoluta.
Daí que me pareça que os eleitores irão votar muito em função da percepção que têm do estado a que o país chegou e a quem atribuem maiores responsabilidades. Existirão os que, apesar de tudo, acham que o menos mau é continuarmos a ser governados pelo mesmos de sempre. Existirão os que entendem que é necessária uma verdadeira alternativa política e que tal só será alcançável com os que menos têm contado para os governos que temos tido. E, neste último caso, existirão os que entendem que essa alternativa deve ser ao sistema, com respeito pelo regime, e os que se afirmando contra o sistema, o que de facto pretendem é mantê-lo e acentuá-lo, mudando o regime.
Estamos ainda a mais de três meses das eleições legislativas e muita água irá ainda correr por debaixo das pontes, como se usa dizer. Desde logo, falta ainda o PS eleger o novo líder e arrumar a casa. Ainda podem surgir novos partidos e formarem-se coligações pré-eleitorais, como parece poder voltar a acontecer entre o PSD e o CDS. E vamos ver se não surgem novos casos políticos-judiciais que podem interferir com o processo eleitoral, como o do envolvimento do Presidente da República no caso da aplicação privilegiada do medicamento mais caro do mundo a duas gémeas brasileiras num hospital público, por solicitação do filho dele. Adivinham-se tempos políticos muito agitados. Esperemos que toda esta agitação não sirva para deixar para segundo plano os problemas reais que mais afectam o País e os portugueses.
Até para a semana! LG, 05/12/2023