Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 20/12/2022
Marco Abundância 20/12/2022
A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.
António Costa com a verdade nos engana
O primeiro-ministro António Costa farta-se de anunciar medidas que favorecem as empresas, os trabalhadores, os desempregados, os reformados, os jovens, as crianças, enfim… todos. Mas entretanto, praticamente, todos continuam a queixar-se da insuficiência e, por vezes também, da inadequação desses apoios aos objectivos divulgados.
Se algumas empresas, pelos resultados que apresentam, não terão razão de queixa, antes pelo contrário, a maioria delas, tal como os portugueses em geral – e também os imigrantes -, têm muitas razões para se queixarem, uma vez que as dificuldades com que se debatem no dia-a-dia se mantêm e, nalguns casos, se agravam mesmo.
Afinal quem tem razão? António Costa e os portugueses em geral.
O primeiro-ministro quando anuncia as medidas fá-lo em termos absolutos, ou seja, tantos milhões para isto, tantos milhões para aquilo, aumentos ou reduções de tantos por centos nisto ou naquilo. Não refere o que tal representa em termos relativos e o que abrange e os impactos que tem. Vamos ver alguns exemplos para se perceber como António Costa dizendo a verdade nos engana.
Anuncia, com grande satisfação, que afinal o crescimento económico fica acima do previsto para este ano e o défice ficará abaixo. Mas em que é que isso se traduziu na melhoria da vida das pessoas e da situação das empresas, com excepção de algumas?
Gaba-se de ter aumentado o salário mínimo nacional em 40% desde que lidera o governo (2015). Mas não refere que é muito mais baixo do que o praticado noutros países, designadamente na vizinha Espanha, onde o salário mínimo nacional é de mil euros, enquanto cá é de 705 euros.
Anunciou, com pompa e circunstância, medidas para fazer face à inflação: 125 euros por pessoa e 50 euros por criança e metade do valor da pensão de reforma para os reformados. Mas não referiu que aqueles apoios às famílias não era mais do que uma ajuda para fazer face às despesas com o início do ano escolar e que o valor a pagar aos reformados era um adiantamento do que iriam receber no próximo ano e que tal contribuiria para alterar as actualizações dos valores das pensões previstas por lei.
Gaba-se de, em 2004, só 25% da população ter o ensino secundário e agora já ter ultrapassado os 75%. Mas não referiu qual o benefício que os os portugueses tiveram pelo facto de terem aumentado tão significativamente a sua qualificação.
Enumera os milhões a mais de dotação do orçamento e os mais 20% de profissionais do Serviço Nacional de Saúde e os milhões a mais de consultas e os milhares a mais de cirurgias assegurados por este Serviço. Mas não refere o caos em que se transformaram alguns serviços de urgência, os atrasos nos tempos de espera nas urgências, para consultas ou para cirurgias e os milhares de pessoas sem médico de família
E muitos mais exemplos podia dar para ilustrar a estratégia de gestão das expectativas seguida por António Costa, que é complementada, por outro lado, com o anúncio em catadupa de novas medidas, projectos e planos. Para cada dificuldade logo é anunciada uma medida para a atacar. Só que essa medida não faz mais do que mitigar a dificuldade e esta persiste, ainda que com menos gravidade. É o que se tem verificado com o combate à inflação – todos os dias são anunciadas novas medidas para a combater, mas o que é que na realidade acontece? Há umas quantas empresas, designadamente nas áreas da energia, da banca e das grandes superfícies que apresentam lucros verdadeiramente pornográficos, sem que nada seja feito pelo governo e há o resto das empresas e dos portugueses, para quem são anunciadas aquelas medidas, a verem os seus rendimentos a encurtar e as dificuldades a aumentar face ao aumento do custo de vida.
E é assim que António Costa nos vai enganando com as suas verdades…
Até para a semana e Feliz Natal!