Crónica de Opinião Lopes Guerreiro – 18/10/2022
Marco Abundância 18/10/2022
A crónica de opinião semanal de Lopes Guerreiro.
Primeiro Costa fala de um País das Maravilhas que a gente não vê
Quem ouve o primeiro Costa – e os seus ajudantes no governo e no partido a replicarem a sua narrativa, palavra por palavra -, “não o leva preso”, como diz o Zé.
O primeiro Costa é um mestre na retórica, com um discurso redondo, positivo, optimista. Para ele tudo está sempre bem e vai estar ainda melhor. Tira-nos poder de compra, porque os aumentos dos rendimentos e das pensões ficam muito aquém da inflação, e diz que vamos ter aumentos como há muito não tínhamos, fingindo ignorar que a inflação subiu mais que aqueles aumentos e como há muito não atingia os valores que agora atingiu.
O primeiro Costa apresentou os três grandes objectivos do Orçamento de Estado e logo os seus ajudantes se desdobraram em replicar a narrativa do Chefe: Aumento dos rendimentos, aumento do investimento e redução do défice e da dívida. Isto dito assim soa bem, mas quando passamos à aplicação prática daqueles objectivos o que observamos? – Uma obsessão pela redução do défice e da dívida, para mostrar à Direita como é capaz de conseguir ter “as contas certas”, o que o leva a tirar dinheiro dos outros objectivos para alcançar este; aumento dos rendimentos que ficam aquém da inflação, apresentado como a grande medida de Esquerda que irá em quatro anos aumentar a participação do trabalho na distribuição da riqueza produzida, que mereceu forte contestação dos beneficiários e de todas as forças de Esquerda, por considerarem que vamos empobrecer ainda mais, e apenas contou com a cumplicidade das associações patronais e da acólita UGT, vamos lá ver em troca de quê; e, finalmente, que dizer do aumento do investimento? – que, apesar do maior pacote de financiamentos da União Europeia, vamos ter muitos anúncios de financiamentos e, depois, no final do ano, vamos verificar que, afinal, muitos daqueles investimentos não passaram do anúncio ou a sua concretização ficou muito aquém do previsto.
Mas nada disto, se acontecer como referi, vai atrapalhar o primeiro Costa. Esperem que ele logo aparecerá, seguido dos seus ajudantes, a justificar o falhanço daqueles objectivos com a guerra na Ucrânia, com a inflação, com a crise no fornecimento de energia, como se estas dificuldades não existissem já e não fosse de prever o seu agravamento. Mas, se achar que estas justificações não são suficientes pode ir um pouco lá mais atrás e lembrar as dificuldades causadas pela pandemia da COVID19 e, um pouco mais atrás ainda, desenterrar a política de austeridade do Passos Coelho, que agora o Comentador Mor da República se lembrou que puxar para a cena política actual…
Certamente que vamos continuar ouvir o primeiro Costa a garantir, pela enésima vez, que com ele não haverá austeridade e que não só não houve cortes como foram corrigidos muitos dos erros de Passos Coelho e todos os anos houve aumentos e mantidas “as contas certas”, como se todos não estivéssemos a sentir as medidas de austeridade que está a aplicar. Obviamente que se esquecerá de referir que Passos Coelho herdou o governo em quase banca rota do PS, liderado por José Sócrates, de quem ele foge como “o diabo da cruz”. Este “afastar para lá” o governo de José Sócrates, como se o primeiro Costa não tivesse nada com ele, é de tal ordem, que ignorou, ao longo destes anos, a Resolução do Conselho de Ministros, de 28 de Maio de 2008, que aprovou o projecto do novo Aeroporto de Lisboa no Centro de Tiro de Alcochete, que obteve um consenso geral e tem todas as aprovações que permitia o lançamento das obras. Porque andou, nestes seis anos de chefia do governo a brincar às localizações, ignorando aquele projecto e vem agora, acusando todos os seus antecessores de incapacidade de avançar com o processo, como se nenhuma responsabilidade nele tivesse, como se não fosse chefe do governo há seis anos e muitos mais como ministro e presidente da Câmara de Lisboa? Porque não avançou com o lançamento das obras de construção do novo Aeroporto de Lisboa em Alcochete, quanto tem um projecto aprovado há 14 anos, que mereceu o consenso geral? Porque vai agora fazer mais um estudo que, se não houver pareceres “encomendados”, irá concluir pela localização em Alcochete? – Para apresentar a conclusão do estudo de localização em Alcochete, como um feito seu, para o qual ainda por cima contou com o aval do novel líder do PSD, ignorando a anterior aprovação? Que custos teve de suportar o país com a sua indecisão? Quem beneficiou com ela?
Para concluir a conversa que já vai longa, gostava de lhes chamar a atenção para a forma como se apresentam o primeiro Costa e os seus ajudantes. Observem e digam se agora não se pavoneiam pelos corredores do poder como se fossem os donos disto tudo, com soberba e cada vez mais distantes do povo e da realidade, como se vivessem numa campânula que os isola da plebe e os faz acreditar que Portugal é o País das Maravilhas. Infelizmente para (quase) todos a realidade é bem diferente do País das Maravilhas em que apenas eles vivem e os portugueses, em cada vez em maior número, vão disso tomando consciência, porque os meses crescem à medida que a inflação cresce e o governo não os apoia na medida daqueles crescimentos.
Fiquem bem e atentos a quem tudo nos promete com um sorriso e não nos assegura uma melhoria das condições e da qualidade de vida com o mesmo sorriso.
Até para a semana!