Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 15/11/2022
Marco Abundância 15/11/2022
A crónica de José Lopes Guerreiro desta semana.
Que Mundo é este que está sempre a prometer o combate à pobreza e esta não para de aumentar?!…
Vivemos num Mundo, cada vez mais desigual, em que uma pequena minoria concentra cada vez mais a riqueza produzida, e, cada vez mais, pessoas não conseguem ter uma vida digna, porque o que recebem do trabalho não o permite, porque os valores das reformas ficam aquém do contratualizado e da inflação, ou porque os apoios sociais, na maioria dos casos, nem sequer garante um mínimo de subsistência a quem deles depende. Isto já para não falar da miséria crescente, que predomina nas populações de alguns países menos desenvolvidos e que não deixa de afectar, cada vez mais, pessoas que caíram na miséria extrema, não tendo comida, nem casa, nem roupa.
Segundo a ONU, o Mundo tem mil e trezentos milhões de pobres em diversas dimensões. O secretário-geral diz que pandemia provocou atraso de mais de quatro anos após avanços para combater a situação. A ONU quer um novo compromisso dos países para que a pobreza se torne um tema do passado. Para o secretário-geral da ONU, o lema do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza foi: “Dignidade para todos na prática”, que deve impulsionar uma ação global urgente para travar a pobreza. António Guterres sugere ainda que aumente a atuação para alterar o sistema financeiro global que para ele está “moralmente falido”.
“Quando a única lei passa a ser o cálculo do lucro no fim do dia, deixa de haver qualquer travão à adoção da lógica da exploração das pessoas: os outros não passam de meios. Deixa de haver salário justo, horário justo de trabalho e criam-se novas formas de escravidão, sofridas por pessoas que, sem alternativa, têm de aceitar esta injustiça venenosa, a fim de ganhar o sustento mínimo”, denunciou o Papa na sua mensagem para o VI Dia Mundial dos Pobres. O Papa Francisco disse ainda que “A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos”, acrescentando que: “Urge encontrar estradas novas que possam ir além da configuração daquelas políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres e muito menos inserida num projeto que reúna os povos”.
Apesar de António Guterres e do Papa Francisco terem abordado, à sua maneira, a origem da pobreza, importa dizer, sem meias palavras, que a a crescente desigualdade da distribuição da riqueza produzida entre o capital e o trabalho é, sem dúvida, a principal causa da pobreza e do seu crescimento.
Multiplicam-se as iniciativas para debater o problema e procurar soluções para ele. São iniciativas meritórias mas de que pouco servirão se não tiverem a injusta distribuição da riqueza produzida como a principal razão da pobreza. São igualmente meritórias as inúmeras iniciativas que procuram apoiar os que caíram na miséria, que não têm de que comer, onde dormir e o que vestir, mas o seu importante papel não consegue mais do que mitigar o problema.
Para que possamos verificar melhor o que se passa na prática, basta ter em conta o que se passa em Portugal: Nos primeiros nove meses deste ano, 13 empresas tiveram de lucro 3 mil milhões de euros. Entretanto, quanto aumentaram, neste mesmo período, os salários, as reformas, os apoios sociais? E quanto aumentou a inflação? E, porque apesar dela, aqueles e outros grupos continuaram a aumentar os lucros de forma tão acentuada? António Guterres sugere “que aumente a atuação para alterar o sistema financeiro global que para ele está “moralmente falido”. E eu acrescentaria que “Dignidade para todos na prática” só existirá quando for assegurada uma maior justiça da riqueza produzida.
Fiquem bem e, se tiverem oportunidade, reflitam um pouco sobre o tema.
Até para a semana!