Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 13/08/2024

Marco Abundância 13/08/2024

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

Espírito Olímpico

Quando procuramos no Google encontramos logo a abrir a seguinte definição: “O espírito olímpico é considerado como um sentimento que une, que demonstra o quanto as pessoas são iguais, o quanto podem superar seus limites e é necessário para a participação em jogos, uma vez que faz os atletas esquecerem o que é uma competição e mudem seu objetivo buscando apenas superar a si e aos recordes.”

Quem ocupou algum do seu tempo a acompanhar os Jogos Olímpicos de Paris, que decorreram nas últimas três semanas e terminaram no Domingo, não terá tido muitas dificuldades em verificar como distantes estiveram daquela definição.

Desde sempre e talvez cada vez mais, os Jogos Olímpicos têm sido fortemente politizados, ao contrário do que sempre é afirmado pelos seus promotores. Desde logo pela admissão e exclusão de países, que gera desigualdades evidentes, porque os mesmos crimes praticados por diferentes países são considerados admissíveis ou não em função da proximidade que se mantém com eles. Que culpa têm os atletas dos países excluídos dos poderes que os governam?

A forma como são organizados e as mensagens, mais ou menos, óbvias que são transmitidas pelo Comité Olímpico e pelo país organizador não deixam margem para dúvidas quanto ao aproveitamento político que deles procuram tirar. Basta lembrar como Emmanuel Macron colocou em “banho Maria” a crise política e de poder que a França vive, adiando para “segundas núpcias” a formação do novo governo, em resultado das eleições realizadas, ignorando “olimpicamente” a proposta para primeiro-ministro apresentada pela Nova Frente Nacional, a vencedora das eleições.

A cobertura mediática feita, com tratamento diferenciado em função dos países de dos atletas, também não deixa muitas margens para dúvidas quanto à falta de isenção de muitos dos órgãos de comunicação e de seus profissionais destacados para ela.

Mas, apesar de tudo isso, os Jogos Olímpicos constituem o maior espectáculo desportivo e mediático que se realiza no mundo inteiro, com grandes impactos desportivo, mediático, social, económico e político, pelo que não é de estranhar a corrida, muitas vezes com pouco “espírito olímpico”, que países fazem para assegurar a sua organização.

Quanto à nossa participação nestes Jogos Olímpicos de Paris, ela decorreu, mais ou menos, como sempre acontece. Ficamos aquém das expectativas e de outros países com que nos podemos comparar, mas satisfeitos porque que tivemos a maior representação e conseguimos os melhores resultados de sempre.

E os poderes, também como é hábito, apostaram tudo em enaltecer as nossas poucas prestações dignas de realce e tudo fizeram para ignorar e passar ao lado das queixas e reclamações apresentadas por atletas, responsáveis federativos e especialistas, antes, durante e depois da realização dos Jogos Olímpicos.

As deficiências registadas a nível do desporto escolar, falta de condições em infra-estruturas e de apoios a clubes e outras organizações na formação, bem como as insuficientes condições disponibilizadas para a alta competição são, entre tantas outras, razões apresentadas frequentemente por muitos para não alcançarmos melhores resultados desportivos.

José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, desde 2013, e, como tal, o principal responsável pela participação de Portugal nas três últimas edições dos Jogos Olímpicos, tendo obtido, nas últimas duas, os melhores resultados de sempre, não deixou, apesar disso, de alertar os poderes para as dificuldades do desporto nacional e as necessidades que têm de ser ultrapassadas para  que Portugal e os seus atletas possam atingir níveis mais satisfatórios.

Por triste coincidência, José Manuel Constantino morreu no dia do encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris. Mais do que palavras elogiosas e merecidas à sua acção, a sua memória deve ser respeitada com políticas e medidas que fomentem o desenvolvimento do desporto nacional, permitindo a todos os praticantes que revelem condições para tal que se superem e os seus recordes.

Até para a semana.

LG, 13/08/2024

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