Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro – 08/08/2023

Marco Abundância 08/08/2023

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro.

A maior jornada de propaganda realizada em Portugal

Terminou a Jornada Mundial da Juventude, uma iniciativa da Igreja Católica, que se realiza, actualmente, de quatro em quatro anos. Esta Jornada teve todo o apoio do Estado, através dos seus diversos serviços e das autarquias, designadamente as de Lisboa e Loures, mas também de muitas outras que, directa ou indirectamente se envolveram no apoio aquele evento.

A forma como foi organizada e decorreu esta Jornada Mundial da Juventude traduziu-se num enorme sucesso para a Igreja Católica, mas também para Portugal e para Lisboa, por não ter registado incidentes de maior, com excepção da morte acidental de uma peregrina, pelo elevado número de participantes e, principalmente, pela forma positiva como foi divulgada, que levou o Papa, manifestamente satisfeito, a declarar Lisboa, nestes dias, como “cidade dos sonhos”.

O resgate, através de una das maiores operações de renovação urbanística, de una grande área ribeirinha entre os concelhos de Lisboa e Loures, que foi depósito de combustível da Galp, terminal de contentores e aterro, e a sua transformação num  parque urbano, foi, para já, o que de concreto e mais significativo ficou para o País.

Outros resultados, designadamente de ordem económica, serão conhecidos mais tarde. Uns, o deve e haver dos custos e proveitos directos da operação, poderão ser conhecidos dentro de poucos meses. Outros, os que têm a ver com o retorno provocado pela projecção de Portugal enquanto país com capacidade para realizar bem grandes eventos e de acolher igualmente bem os que neles participam,  provavelmente nunca se conseguirão medir.

Os portugueses, crentes ou não, apoiantes ou críticos da realização da Jornada no nosso País ou dos apoios oficiais que lhe foram concedidos, viveu estes dias, quase uma semana, intensamente, porque as televisões, incluindo a pública, cobriram, para além de todos os passos do Papa, todas as iniciativas em que participou, durante largas dezenas de horas, muitas delas consecutivamente.

As multidões de jovens, vindos de todo o Mundo, com a sua alegria e animação e comportamento ordeiro, transmitiram uma imagem positiva e, que, de algum modo, contagiou os portugueses, mesmos os mais críticos.

Mas, nem tudo foi assim tão positivo ou merece o apoio generalizado, como pareceu e as televisões mostraram.

Esta Jornada Mundial da Juventude, para além de ser uma enorme jornada de propaganda da Igreja Católica, projectou a imagem da Igreja boa, através da imagem e da palavra positivas do Papa Francisco, que deixou importantes mensagens sobre as desigualdades, a necessidade de combate ecológico para reconciliação com a natureza, a necessidade de promoção da paz, de respeito da identidade de cada um, de respeito entre cada um, contribuiu também para o branqueamento dos grandes e graves problemas com que a Igreja Católica se debate.

Foi mais do que discutível o envolvimento do Estado laico e dos seus principais responsáveis nas iniciativas de cariz eminentemente religioso. Marcelo Rebelo de Sousa parece ter metido férias de Presidente da República, tal foi a sua omnipresença na Jornada, que o levou, ao contrário do que é habitual, a não aparecer no teatro das operações de combate a grandes incêndios que, entretanto, ocorreram.

A cobertura dos órgãos de comunicação social, designadamente os públicos, envolvendo praticamente toda a sua capacidade e deixando para segundo plano todos restantes assuntos, por mais relevantes que tenham sido, foi manifestamente excessiva e positiva, limitando-se a comportar-se, na prática, como a voz da Igreja Católica. No telejornal de Domingo, só foram tratados os incêndios depois de cerca de meia hora de estar no ar…

António Costa, na sua forma peculiar de ver as coisas, considerou que “todas as polémicas [antes da JMJ] foram absurdas” e não tem dúvidas de que “Ao longo dos próximos anos vamos continuar a colher muitos frutos desta Jornada. Porventura o fruto mais importante de todos é como os jovens vão interpretar as palavras do Papa Francisco e como vão utilizá-las para convertê-las em ação”.

E eu arriscar-me-ia a acrescentar que igualmente importante será a forma como os poderes políticos, empresariais e sociais vão reagir aos inúmeros desafios que o Papa Francisco lançou. Se, embora manifestando concordância, nada fazendo, mantendo tudo na mesma ou, se num inusitado despertar de consciências, os vão encarar de frente e a sério, tudo fazendo para resolver os mais graves problemas que afectam as sociedades, assegurando a todos poderem viver com dignidade, para o que deve ser assegurado, antes de tudo, o direito ao trabalho com direitos.

No caso do governo português e de António Costa, em particular, seria importante que seguisse um outro ensinamento do Papa Francisco: Ouvir, ouvir, ouvir. Era importante que deixasse para trás um pouco do seu auto-contentamento e ouvisse mais e com mais atenção o que os portugueses lhe reclamam e trabalhasse mais para que sejam dadas, mais depressa, melhores condições às pessoas. Mostrar-se, permanentemente, satisfeito com o que o seu governo faz mostra que não está nesse caminho. Esperemos que tenha ouvido muitos dos sábios ensinamentos de Jorge Bergoglio e que tudo faça para os por em prática, com a maior brevidade. Se tal acontecer, já valeu a pena a realização da Jornada Mundial da Juventude em Portugal.

Até para a semana!                                                                                 LG, 08/08/2023

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