Crónica de Opinião – Lopes Guerreiro
Marco Abundância 13/12/2022
Esta terça-feira é dia da crónica de opinião de Lopes Guerreiro. O autor do blog Alvitrando, traz o Mundial de Futebol do Qatar como tema.
Mundial de Futebol – uma boa imagem do que somos
Sonhámos alto, achámos que, ainda, com um dos melhores futebolistas de sempre e um plantel recheado de craques, constituindo talvez a melhor geração de sempre, íamos ser campeões do mundo. Seria, finalmente, a afirmação de que somos uma das principais pátrias do Futebol, porque temos dos melhores treinadores e outros técnicos e jogadores do mundo. E seria também o culminar – e, se calhar, também o encerrar -, da carreira de Cristiano Ronaldo, com o título que mais ambicionava.
Apesar da fé inabalável do seleccionador Fernando Santos, não o conseguimos o que tanto ambicionávamos e fomos derrotados por Marrocos, tal como, há 444 anos, fomos derrotados em Marrocos, sob o comando e a fé inabalável de D. Sebastião, que foi morto em combate bem como a nata da nobreza, iniciando a crise dinástica de 1580 que levou à perda da independência. Será que agora também se abrirá uma crise no reino do Futebol de Portugal, com consequências ainda imprevisíveis?
Depois de, na fase de grupos, termos alcançado duas vitórias frente ao Gana e ao Uruguai, perdemos o terceiro jogo com a Koreia do Sul e, logo aí, começaram a levantar-se as maiores dúvidas sobre a capacidade de Fernando Santos conseguir aproveitar a melhor geração de sempre de futebolistas para, afirmar toda a capacidade de Portugal, enquanto grande potência do Futebol, e conquistar o Mundial. Tal como se adensaram as dúvidas sobre se a Selecção Nacional renderia mais com ou sem Cristiano Ronaldo.
A seguir vieram os oitavos de final e uma goleada à Suíça, que levou à consideração de que afinal Fernando Santos não só era capaz de comandar a selecção rumo à vitória como também foi capaz de sentar Cristiano Ronaldo no banco, depois de atitudes menos correctas por parte deste. Tudo isto, acompanhado de uma das melhores exibições de sempre da Selecção Nacional, transformaram o sonho de sermos campeões mundiais num objectivo a alcançar.
Entramos nos quartos de final com a forte convicção colectiva de que tínhamos competências e atributos suficientes para levar de vencida a surpreendente Selecção de Marrocos. E a máxima de que “em equipa que ganha não se mexe” transformou-se num lema nacional, mesmo que isso implicasse deixar Cristiano Ronaldo, pela segunda vez consecutiva, no banco de suplentes. E, não conseguindo conter a confiança desmedida de que o título de Campeões do Mundo não nos fugiria, subestimámos o facto de a Selecção de Marrocos, para chegar a este jogo, ter empatado com a Selecção da Croácia e derrotado as selecções da Bélgica e do Canadá nos oitavos de final e ultrapassado a Selecção de Espanha nos penáltis, nos oitavos de final. E com mais uma nota digna de registo: Só sofreu um golo e mesmo esse foi um autogolo.
E, como não raras vezes acontece, apanhámos um banho de água fria ao perder por um a zero com Marrocos, mesmo com Cristiano Ronaldo a “dar o litro” durante quase toda a segunda-parte do jogo. E, à boa maneira portuguesa, logo começámos à procura dos bodes expiatórios. Logo no final do jogo, Bruno Fernandes e Pepe não pouparam nas palavras para acusar o árbitro argentino de estar a facilitar a vida à Selecção Argentina e a Messi que pretende alcançar o título de Campeão do Mundo, conseguindo o que Cristiano Ronaldo já não vai conseguir, pelo menos neste Campeonato. Esqueceram-se os dois jogadores que, ao desvalorizarem o mérito da Selecção de Marrocos, estavam a desvalorizar a sua prestação e a da sua Selecção… Depois, vieram os comentadores – uns encartados outros nem por isso -, a apontar baterias a Fernando Santos, pedindo a sua cabeça. Até há, já há algum tempo, quem defenda a substituição de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, por Cristiano Ronaldo e de Fernando Santos por José Mourinho…
E “prontos”, como tantos dizem, lá transformámos bestas em bestiais, para voltar a transformar bestiais em bestas. E lá vamos continuar a “caça às bruxas” que é como diz aos bodes expiatórios das nossas frustrações.
E, assim, como podemos ver, não faltarão temas para os incontáveis e infindáveis debates sobre as razões para mais um fracasso do nosso país no mundo do Futebol. Será que agora, depois de uma ocupação a tempo inteiro de uma nação, com os seus principais responsáveis à cabeça, vamos ter algum tempo para nos ocuparmos com o que mais interessa, ou seja, com as nossas vidas e como muitas delas estão a ser afectadas pela inflação e o aproveitamento que dela fazem muitas das grandes empresas com o beneplácito do governo?
Fiquem bem e pensem nisso! Até para a semana!