Crónica de Opinião Lopes Guerreiro – 06/12/2022

Marco Abundância 06/12/2022

A crónica de opinião de Lopes Guerreiro. O autor do blog Alvitrando aborda hoje o tema dos imigrantes na região.

 

Um país de emigrantes deve acolher melhor os imigrantes

As recentes notícias sobre a mega-operação levada a cabo pela Polícia Judiciária contra uma rede de tráfico humano, associação criminosa e branqueamento de capitais no Baixo Alentejo, vieram trazer para a ordem do dia as inumanas condições de acolhimento de imigrantes no nosso país.

Importa, antes de mais, frisar que estes problemas não existem apenas no Baixo Alentejo e na agricultura, pelo que devemos recusar esse anátema que sobre a região foi de imediato lançado por alguns. Infelizmente esses problemas existem em todo o país, com maior dimensão nos sectores da construção, do turismo e restauração e da agricultura, sectores mais carenciados de mão-de-obra e onde a precariedade predomina.

Portugal, pela forte emigração que teve e continua a ter, não pode permitir que situações destas aconteçam no seu território. Deve fazer tudo para que os imigrantes sejam bem acolhidos, com respeito por todos os seus direitos, obrigando todos os agentes envolvidos a cumprirem todas as suas obrigações para com aqueles que recrutaram ou aceitaram que entrassem no nosso país, para aqui desenvolverem as suas actividades profissionais.

Portugal foi e continua a ser um país de emigrantes. Ainda recentemente foi publicada uma informação, comprovada pelo Polígrafo, de que “Portugal é o país da União Europeia com mais emigrantes espalhados pelo mundo, comparativamente com a população residente”, ocupando ainda “a 27.ª posição na lista de países com mais emigrantes” ao nível mundial.

Entre 1954 e 1974, a miséria rural, a ausência de liberdade, a fuga ao serviço militar em Portugal e a procura de melhores condições de vida, forçaram à  saída legal ou  clandestina, de mais de um milhão de portugueses em direção ao território francês.

A vida dos portugueses acolhidos em países estrangeiros nem sempre foi fácil, atingindo extremos de dificuldades nos “bidonvilles” – enormes bairros de lata, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, construídos junto das obras de construção civil, nos arredores de Paris -, que albergaram milhares de portugueses, que nos anos 60 trabalharam na construção civil.

Esta é um memória que não devíamos perder, como parece estar a acontecer, com as condições oferecidas aos imigrantes, que, nalguns casos, não são muitos diferentes das que os nossos emigrantes viveram nos “bidonvilles” e outras situações similares. Recrutados nos seus países de origem, em muitos casos, por autênticas redes criminosas, que lhes cobram verbas altas em troco de promessa de melhores condições laborais e habitacionais, veem, ao chegar ao nosso país, esboroarem-se as ilusões de poderem aqui terem uma vida profissional decente, que lhes permitisse ajudar as famílias, que deixaram nas suas terras, a terem uma vida melhor.

Não se pode admitir que as autoridades demorem tanto tempo a reagir ao que, desde há muito, é do domínio público e em nada abona Portugal. Perante a acção das redes criminosas de recrutamento de mão-de-obra imigrante e sua colocação em empresas portuguesas, as autoridades competentes – e neste caso são muitas e diversas -, têm de ser mais proactivas e agir mais celeremente, de forma a evitar que as redes criminosas actuem livremente, instalando-se a sensação de que tudo podem, incluindo a escravidão de alguns dos emigrantes, que ficam totalmente delas dependentes.

Nesse sentido, o mínimo que há a esperar desta recente mega-operação é que sejam apuradas todas as responsabilidades, julgados todos os acusados e condenados todos os que a Justiça provar que praticaram os crimes de que são acusados. Esperemos que outras acções deste tipo sejam levadas a cabo e desta forma as redes criminosas percebam que estão a ser controladas. E esperemos igualmente que aos imigrantes sejam asseguradas condições de vida dignas, tal como a todos os trabalhadores. Os imigrantes merecem isso e Portugal deve-lhes isso.

Fiquem bem! Até para a semana!

A Voz dos Outros

Espaço dedicado ao Concelho de Vidigueira e à Região.

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